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Presidido pelos irmãos Joel e Ethan Coen, o júri do Festival de Cannes deste ano surpreendeu ao dar a Palma de Ouro a Dheepan: O Refúgio (2015), filme do cineasta francês Jacques Audiard, contrariando boa parte das expectativas e dos prognósticos. O longa retrata as dificuldades de uma “família” refugiada do Sri Lanka para adaptar-se à nova vida no violento conjunto habitacional francês em que é colocada. O protagonista vira zelador de um prédio tomado de atividades ilícitas, enquanto sua “esposa” consegue o emprego de cuidadora de um idoso, tio do bandido em liberdade condicional que parece o mandachuva local. Já a “filha” sofre nos primeiros dias na escola. Abordando questões urgentes, como imigração e xenofobia, Dheepan: O Refúgio divide opiniões, e, portanto, é um prato cheio ao nosso Confronto. No debate desta semana, Filipe Pereira defende o filme de Audiard do ataque de Marcelo Müller. Confira e não deixe de opinar.

 

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A FAVOR :: Transborda visceralidade e crueza”, por Filipe Pereira
De formato inusual, Dheepan: O Refúgio é apenas uma das demonstrações de excelência da carreira premiada de seu diretor, Jacques Audiard, um homem que consegue expressar de maneira única o âmago do sentimento humano. A história de Dheepan é comum para muitos e ignorada por populações inteiras que não fazem ideia do drama de guerra em que está o seu país, o Sri Lanka. O roteiro de Audiard, Noé Debré e Thomas Bidegain mostra uma falsa família de refugiados, formada por pessoas completamente dissonantes, que sequer se conhecem, mas que servem de alegoria óbvia à falta de identidade do homem pós-globalização. O argumento passa não só por questões óbvias, mas também pela hipocrisia voluntária, de quem simplesmente ignora o drama alheio, e da involuntária, do sujeito que mente para si mesmo a fim de construir uma vida mais amena, já que a guerra é o único meio que ele conhece. O final “pervertido” serve de muleta para quem se incomoda com a trama, mas, analisando de perto, percebe-se toda verossimilhança que transborda visceralidade e crueza, artigos em falta no cinema mainstream, e aponta para questões sociais normalmente desprezadas por conservadores, conformados e poderosos, que lucram com a desgraça alheia.

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CONTRA :: Penhora suas qualidades para conceder ao público o final feliz”, por Marcelo Müller
Este filme carrega nas costas, para o bem e para o mal, o peso de ter ganhado a prestigiada Palma de Ouro em Cannes. Por determinados aspectos, como a efetivação lenta e gradual de uma família construída desesperadamente pela necessidade de fugir de um país em guerra, justifica a láurea. Já em virtude de outros, a realização de Jacques Audiard quase bota tudo a perder. Pelo andar da carruagem, sabemos que uma hora ou outra o protagonista, ex-combatente que começa vida nova na França, vai explodir para proteger aquelas que moram sob o seu teto. O então previsível rompante de violência é encenado de maneira desajeitada, com as mortes não servindo à catarse, nem bem à redenção. É decepcionante que o longa-metragem, no mais das vezes um consistente drama focado em questões importantes, com momentos de beleza latente, sobretudo no que diz respeito ao relacionamento de Dheepan com a mulher e a filha postiças, penhore suas qualidades para conceder ao público o final feliz precedido de um banho de sangue exposto na tela sem energia. Audiard boicota as sutilezas e certo naturalismo da narrativa (seus pontos fortes) com as soluções fáceis e a guinada canhestra que permite um encerramento conciliatório e esperançoso.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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