Uma das grandes surpresas da última temporada de premiações, o mais recente trabalhado dirigido por Quentin Tarantino, um dos mais aclamados realizadores do universo pop atual, dividiu públicos e opiniões. Django Livre conta a história de um escravo que, após ser alforriado no sul dos Estados Unidos no século XIX, decide partir em vingança para salvar sua esposa de um poderoso senhor de terras. O filme chegou às telas com muita expectativa, que aos poucos foi se convertendo em aplausos dos fãs e repulsa dos mais sensíveis. Tarantino acabou de fora dos indicados à Direção no Oscar 2013, mas o filme garantiu outras cinco indicações, conquistando duas estatuetas – a de Melhor Ator Coadjuvante, para Christoph Waltz, e a de Roteiro Original, para… Tarantino! E é sobre este trabalho, que não permite meio-termo ao levantar discursos extremos, que estabelecemos este Confronto, com duas vozes – uma contra, outra a favor – sobre esta obra polêmica e controversa. Confira!
A FAVOR: “Prova de amor do artista ao cinema”, por Marcelo Müller
Django Livre, a interpretação do sul escravagista americano pelas lentes apaixonadas e pungentes de Quentin Tarantino, é também mais uma das provas de amor do artista ao cinema. Desta feita, o spaghetti western, desprezado em idos tempos por mimetizar com temperos e cenários europeus o gênero cinematográfico essencialmente estadunidense, é utilizado para mostrar um Django alforriado que empreende vingança particular sob a orientação do caçador de recompensas disfarçado de pacato dentista. Aqui Tarantino novamente reescreve a história sem muita preocupação com fidedignidade, explicitando algo do caráter libertário inerente ao próprio cinema, que encerrado em si tudo pode, até mesmo reorganizar a seu bel prazer o passado. A violência estilizada, característica do diretor, está presente, bem como a inclinação por músicas de boa qualidade e o cuidado estético suportando a progressão dramática na direção da catarse. O banho de sangue que ruboriza as plantações de algodão acaba por reforçar a brutal subjugação pretérita do negro norte-americano sem qualquer ranço. A represália de Django lava a alma de seus pares e entra para a galeria das grandes vinganças cinematográficas orquestradas com brilhantismo por Tarantino.
CONTRA: “Repetição não somente narrativa, mas arqueológica”, por Pedro Henrique Gomes
Django Livre é a reprodução de Bastardos Inglórios (2009) sob outra vestimenta. Repetição não somente narrativa, mas arqueológica. O desligamento da História lhe serve como alívio cômico, vez ou outra se apresenta em forma de resistência política – pois a ideia é boa. O problema, aqui mais do que nunca em sua obra, está no método. A sequencialidade narrativa do filme está francamente presa a representação da obra anterior, copiando dela os conflitos e os desfechos, as aproximações e as distâncias, o sangue e a frivolidade. Todo o torpor que dele emana parece mais fruto de uma trajetória mecanicamente construída para a edificação de uma “história no cinema”, a sua história, ainda sob os discursos da subversão, do cineasta que extrapola os limites convencionais da narrativa clássica quando, para dizer claramente, Tarantino sempre foi apenas um bom conservador. Paradoxo a parte, ele funciona melhor (como em Cães de Aluguel, 1992, e Jackie Brown, 1997) quando parece menos consciente de seu poder.
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