Christopher Nolan tem se aprimorado, ao longo dos anos, enquanto cineasta extremamente preocupado com o visual de seus filmes. Não são poucos os exemplos neles em que a imagem se sobrepõe às atuações do elenco ou até mesmo à história. Não é diferente neste Dunkirk. Porém, ao retratar a fuga dos Aliados ingleses na Segunda Guerra Mundial, o diretor optou por aprofundar o tema com pouca história, escassos diálogos, mas muito, mesmo, trabalho de som e equivalente decupagem. Ao intercalar os diferentes segmentos que ocorrem na tela (os aviões de caça em combate, a fuga dos soldados em embarcações e o resgate por parte de civis), Nolan coloca em prática os trabalhos de edição de áudio e fotografia que deixam o espectador no centro do conflito. É claustrofóbico ouvir o tiroteio nas ruas com os militares em fuga sendo alvejados um a um. É a batalha nos céus na qual o que menos se ouve são as conversas dos pilotos, pois testemunhamos suas expressões de medo/coragem e os ângulos de voo. É o navio afundando após um bombardeio com centenas de pessoas tendo de escapar de forma angustiante. Ainda que o ato final dê uma derrapada com o excesso de sentimentalismo, algo fora dos padrões do realizador, Dunkirk é o filme em que Nolan mais se atém às emoções sem precisar recorrer ao aprofundamento dos personagens. Não é preciso ver os nazistas (já que eles nunca aparecem, mesmo) para sentir os horrores da guerra. O trabalho meticuloso engrandece o tema, ainda que ele seja uma derrota sofrida, porém, que causa esperança em sua conclusão. Uma experiência audiovisual completa. – por Matheus Bonez