Composto essencialmente de momentos de elevação de tensão, numa sucessão de crescendos envoltos em gravidade permanente, o novo trabalho de Christopher Nolan pretende ser uma experiência singular no retrato da guerra. Na busca pela imersão física no combate, entretanto, o longa não permite espaços à reflexão ou para a absorção plena da complexidade emocional do contexto, sufocando-se na própria proposta. Não há silêncios ou contemplação em Dunkirk, pois mesmo em sequências como aquela que coloca os três jovens soldados sentados na areia após tentativa frustrada de abandonar o caos, observando outro combatente caminhar solitário rumo ao mar, a trilha sonora momentosa e incessante de Hans Zimmer faz sentir que eles estão diante de mais um ataque da frota alemã. A armadilha autossabotadora é completada pela estrutura narrativa dividida em três frentes que, em diversas passagens, gera apenas a desorientação espacial/temporal, diluindo o impacto das mesmas. Seguindo o princípio de que a guerra é feita de anônimos, e dramas pessoais se apequenam diante do coletivo, Nolan povoa seu longa com personagens que, basicamente, possuem uma funcionalidade mecânica, vide os oficiais vividos por James D’Arcy e Kenneth Branagh. Contudo, o próprio cineasta termina por não sustentar sua ideia integralmente, se entregando à necessidade de criar emoções e soando artificial – especialmente no desfecho de tom triunfal, dissonante de tudo que o precede, moldado pelas palavras de Winston Churchill. Mesmo que, de fato, aproxime o espectador da batalha – das explosões, tiros e naufrágios – através de seu inegável esmero técnico formatado para a grandiosidade das salas IMAX, Dunkirk segue a tendência de Nolan de se distanciar da conexão emocional genuína. Pois, seu cinema de sentimentos calculados não oferece brechas para o desconhecido, ao risco, à invenção, enfim, àquilo que constitui a qualidade humana, elemento-chave para se atingir a almejada transcendentalidade alardeada por tantos. – por Leonardo Ribeiro