Candidato a queridinho da vez, Ela (2013), de Spike Jonze, mostra um futuro imediato no qual há certa radicalização de alguns processos comportamentais que já acompanhamos hoje em dia. Gente completamente fechada em seus gadgets, pouca interação social, muita tecnologia e as dificuldades nos relacionamentos de uma geração cada vez mais ensimesmada. Nesse cenário, Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) se apaixona não pelas curvas de uma mulher, ou pela beleza de seus olhos, mas pela personalidade (voz de Scarlett Johansson) de um sistema operacional. Apontado como drama sensível sobre as dificuldades inerentes a qualquer tipo de relação, Ela tem recebido muito mais elogios do que críticas negativas, o que não diminui de maneira alguma os argumentos dos detratores que acham cool demais o estilo de Jonze. Para entrarmos no mérito da questão, chamamos Dimas Tadeu, da turma dos defensores, e Renato Cabral, da galera contrária, para debater Ela. E para você, o filme é uma bonita trama sentimental ou mais uma bobagem com ares de modernidade? Confira e opine.
A FAVOR :: “Delicado conto sobre a artificialidade das relações”, por Dimas Tadeu
Spike Jonze sempre foi um diretor dado a universos paralelos, ainda que estes fossem a realidade e a ficção, e a fina camada de melancolia que, para ele, jaz entre as duas instâncias. E se pensar no futuro sempre fez parte de seu exercício, (I´m here, seu curta feito para uma marca de bebidas, já adiantava o que viria pela frente), é em Ela que ele o realiza com magnitude plena. Num delicado conto sobre a artificialidade das relações, somos conduzidos por um mundo em que a pureza do sentimento não assegura sua verdade, por assim dizer. E a verdade, não assegura sua pureza. Se a ideia de se apaixonar por um sistema operacional parece maluca, a forma como isso acontece faz com que pensemos nas vezes em que nos sentimos como o protagonista, ainda que vivamos numa época onde a inteligência artificial ainda esteja restrita a laboratórios. Aliado a uma direção de arte tão sutil quanto brilhante e a entrega de Joaquin Phoenix a um papel pra lá de inusitado, o filme desponta como um dos mais brilhantes ensaios sobre o amor, esse vírus que insiste em bugar nossos sistemas desde que o mundo é mundo.
CONTRA :: “Fraco, repleto de clichês e pieguices”, por Renato Cabral
Pode parecer insensível o que vou dizer, ainda mais frente a recepção calorosa que Ela, a última novidade de Spike Jonze, vem recebendo ao redor do mundo por parte da crítica e do público. Longe de ser um filme monstruosamente horrível, porém, a produção peca em diversos aspectos. Cai novamente no retrato cansativo e caricato já explorado por Jonze em seus filmes anteriores (a maioria roteirizada por Charlie Kauffman) sobre um cara esquisito e anti-social, rodeado de intelectuais e figuras excêntricas, que se encontra em uma experiência bizarra. Envolto em uma estética hispter, Ela vem contar a história de Theodore, interpretado por um Joaquin Phoenix forçado que nos faz sentir saudades de sua performance em O Mestre (2012). Dessa vez ele vive um solitário escritor que acaba de sair de um rompimento e, depois de encomendar um sistema operacional que sabe todas as suas necessidades, acaba, digamos, se relacionando bem além da conta com essa voz sensual interpretada por Scarlett Johansson. Em meio a um filme fraco, repleto de clichês e pieguices, um pouco de insensibilidade talvez poderia ter dado certo equilíbrio.