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Quando exibido pela primeira vez, durante o 45° Festival de Cinema de Brasília, o sentimental Elena, de Petra Costa, foi recebidos com reações extremas – enquanto uns aplaudiam entusiasticamente, outros viraram o nariz, cansados com o excesso do viés íntimo e pessoal dessa narrativa de uma mulher – no caso, a própria diretora – em busca de sua irmã, há muito já falecida. O filme saiu premiado com quatro Candangos – Melhor Documentário pelo Júri Popular, Direção em Documentário, Direção de Arte em Documentário e Montagem em Documentário – e depois foi selecionado para outras mostras, competitivas ou não, no Brasil e até no exterior, como em Amsterdam e em Guadalajara, entre tantos outros. Recebido com entusiasmo pelo público ao ser lançado no circuito comercial há pouco menos de um mês, tem gerado bons debates a respeito tanto de sua forma como sobre seu conteúdo. E é por isso que Elena é o título dessa semana aqui no nosso Confronto, em que tanto Dimas Tadeu quando Pedro Henrique Gomes expõe seus sentimentos a respeito. Se gostaram ou não, a interpretação é livre e individual!

 

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A FAVOR:É ao mesmo tempo epitáfio, homenagem e farsa”, por Dimas Tadeu
Há alguns anos a produção documental brasileira vem se afirmando como parte essencial do cinema nacional. Graças a nomes como João Moreira Salles, Eduardo Coutinho e Kiko Goifman, o que poderia ser um “programa chato no Discovery Channel” se colore com dramaticidade, sentimento, profundidade e poesia, borrando as barreiras entre o real e o ficcional (se é que há alguma). Com Elena, a jovem Petra Costa se junta a esse time veterano e ousa dar um passinho além: seu filme é ao mesmo tempo epitáfio, homenagem e farsa. Abusando de sua própria semelhança física com a irmã, fazendo do trágico passado um suspense futuro e dando o próprio sangue (em forma de vídeos do arquivo familiar), Petra conseguiu o logicamente impossível: fazer com que sua irmã estrelasse seu primeiro filme nas telas de cinema. Um filme que faz a tragicidade de mil Ofélias explodir na catarse de um espectador que, surpreso, talvez deixe a sala se perguntando onde termina o real e começa o possível.

 

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CONTRA:Parece forçar uma relação sentimental com o espectador”, por Pedro Henrique Gomes
Elena é todo difuso, seja pela luz, pelo borrado que ela traça nas imagens ou pela dificuldade de seu empreendimento afetivo. Esse fluxo cria imagens de força e o filme de Petra Costa é eficiente no que toca sua forma. Busca ir além do conhecimento humano, além da ciência e da razão. Quer mesmo chegar ao espírito de si, seja lá qual for: da memória ou mesmo do corpo. É um gesto bonito e bem pensado, mas como narrativa parece deixar peças soltas, palavras lhe escapam em excesso, parecem forçar uma relação sentimental com o espectador que poderia existir com menos violência, com menor pressão para potencializar o sentimento e torná-lo universal, fazer dele um drama identificável (sem perder a “pessoalidade”). Em alguns momentos da narração que o permeia, precisa contar com um espectador contagiado e sensibilizado com a busca, não permite seu distanciamento, a fuga momentânea, a suspensão do juízo (do ver, do saber). Mas, no cinema, e apenas alguns instantes em Elena, às vezes a palavra toma conta de nossos gestos até em sua ausência, pois está ali enquanto imagem, dizendo sem som, mostrando sem expor em miúdos, e daí resultam os poemas e os cinemas mais belos.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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