Filmes bíblicos por si só causam polêmica pelo tema em si. Afinal, a religião atrai público de todas as formas, dos fiéis aos detratores. Com Êxodo: Deuses e Reis, Ridley Scott apresenta sua versão para a história de Moisés e Ramsés com Christian Bale e Joel Edgerton, respectivamente, nos papeis principais. O longa que estreou no fim dos anos nos cinemas brasileiros já ultrapassou 2,2 milhões de espectadores com apenas duas semanas em cartaz. Com tanto sucesso em terras brasileiras (ao contrário dos EUA, onde o filme enfrenta um fiasco comercial), é óbvio que a equipe do Papo de Cinema precisava debater os méritos e as falhas da produção. Enquanto Yuri Correa ataca, Thomás Boeira defende o filme. E você, concorda com quem? Confira e opine!
A FAVOR :: “Longa é fiel ao material original sem sacrificar abordagem racional”, por Thomás Boeira
Ridley Scott andava numa maré de projetos que simplesmente não chegavam a mostrar o talento que ele já exibiu em várias obras. No entanto, em Êxodo ele surpreende, realizando seu melhor trabalho desde o ótimo O Gângster (2007). Focando a conhecida história de Moisés (vivido por Christian Bale em mais uma ótima atuação), o filme consegue ser fiel ao material que está desenvolvendo na tela sem sacrificar a abordagem mais racional que usa para retratar seus elementos, desde as pragas até o próprio Deus, que aqui pode ser uma espécie de alucinação do protagonista. São detalhes que tornam a narrativa muito interessante de se acompanhar, sendo que esta é conduzida por Scott com a grandiosidade que é esperada neste tipo de história, ainda que nas cenas de batalha ele falhe ao não deixar muito claro o que está acontecendo em cena. Ao lado do Noé (2014) de Darren Aronofsky, lançado no mesmo ano, Êxodo acaba formando uma sessão dupla que não faz feio diante de grandes épicos do cinema.
CONTRA :: “Diretor sabota seus esforços com filme morno e burocrático”, por Yuri Correa
Se colocado em comparação com seu último filme, O Conselheiro do Crime (2013), eu poderia estar defendendo este novo longa de Ridley Scott, o que é também a maior proeza que Êxodo consegue alcançar. Sim, tecnicamente não há do que se reclamar e Christian Bale está admirável como esta versão cinzenta de Moisés, não mais o impreterivelmente bom moço de quem ouvimos sempre falar. Mas diferente do que fez, por exemplo, Darren Aronofsky recentemente com o seu Noé (2014), Scott não assume aqui o risco de adaptar ao pé da letra os textos bíblicos e tenta impregnar de um ar realista uma história que sabota seus esforços a cada esquina. Tenta agradar assim gente demais e entrega um filme morno e burocrático que apenas repassa item por item uma trama que já foi contada com mais emoção em O Princípe do Egito (1998) e Os Dez Mandamentos (1956). É um esforço válido de um diretor que, com o nível de produção que tem em mãos, já não lembra mais de como costumava ser um mestre. É pouco e insatisfatório justamente por isso.