Getúlio Vargas é uma figura tão controversa quanto importante da história política brasileira. Ditador, deposto pelos militares, regresso ao poder nos braços do povo, o gaúcho de São Borja saiu da vida para entrar na História no dia 24 de agosto de 1954 quando, acuado, atirou contra o próprio peito. O presidente que rasgou constituições, que posteriormente instituiu as principais leis trabalhistas vigentes, merecia, sem dúvida, uma abordagem do nosso cinema. O longa Getúlio (2014), dirigido por João Jardim, se dá nos últimos dias de vida do estadista, registra os momentos mais dramáticos dele frente ao governo e culmina com sua morte seguida de comoção nacional.
Será que o filme de Jardim é eficiente ou uma tentativa malograda de retratar o biografado? Para discutir os méritos e deméritos de Getúlio, chamamos Marcelo Müller, da ala contra, e Rodrigo de Oliveira, da turma a favor. E aí, com quem você concorda? Confira e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “Dá ao espectador de forma bastante energética um retrato daquele período”, por Rodrigo de Oliveira
Diferente de muitas cinebiografias de grandes figuras históricas, que tentam contar a vida do retratado da infância à vida adulta, tornando-se uma sucessão de episódios, João Jardim acerta a mão em Getúlio por escolher um recorte pequeno e preciso: os últimos 19 dias de vida de Vargas. Construindo um filme cheio de tensão, visto que aquela foi uma época turbulenta na história do nosso País, Jardim dá ao espectador de forma bastante energética um retrato daquele período, acertando em cheio na direção de arte, fotografia e, principalmente, no elenco. Tony Ramos desaparece como Getúlio Vargas. A maquiagem faz um trabalho essencial, mas o ator dá o algo mais, a angústia do político, a dúvida a respeito das figuras que o circundam, a certeza de não querer deixar o poder em baixa. Existe um turbilhão de ideias na cabeça de Getúlio, transmitidas de forma ímpar por Tony Ramos. É sempre louvável acompanhar produções que tratem a história do País com tamanho cuidado e Getúlio é um destes exemplos. Pode dourar a pílula para o lado do retratado, mas também não esconde de todo o passado ditatorial de Vargas, uma figura que saiu da vida para entrar na História.
CONTRA :: “Falta foco”, por Marcelo Müller
Getúlio não é um filme necessariamente ruim. Seu problema não é o recorte, aliás, sempre bem-vindo, pois ele dimensiona o protagonista em seu momento mais crítico. O filme de João Jardim se debruça sobre os 19 dias que antecederam o suicídio de Getúlio, nos quais afloram tensões políticas e suas equivalentes pessoais. Tudo é bem reconstituído e fica a impressão de uma obra íntima, sem aspiração à grandiloquência, ainda que narre fatos grandiosos. O que importa é o Getúlio homem, o estadista acuado ou ainda a efervescência do país no período? É aí, na falta de foco (ou de tempo?) que o bicho pega. Há uma sensação de ausência substancial, como se algo capital se perdesse em meio à tentativa de dar relevo às muitas possibilidades. Tony Ramos, por sua vez, sai-se bem, a não ser pelo fato de “esquecer” o sotaque sulista carregado do seu personagem, lembrando do “gaúchês” só lá de vez em quando, ocasiões em que acaba soando forçado e caricato. O esmero da produção faz o filme passar na nossa frente numa boa, sem maiores percalços. É muito pouco frente a importância do personagem e dos fatos históricos retratados.
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