Como quase todo vencedor do Oscar de Melhor Filme, Gladiador (2000) gera muitas controvérsias. Mérito artístico ou de marketing? Invariavelmente, ganhar um prêmio tão significativo e tradicional contribui para que certas restrições ganhem corpo, afinal de contas todos têm seus favoritos e, como não dá para agradar todo mundo, talvez ao vitorioso seja lançada uma ira muitas vezes (mas nem sempre) exagerada. O longa do cineasta Ridley Scott tem como protagonista o general romano Máximus Décimus Meridius (Russell Crowe), destituído de sua patente logo após voltar da batalha contra os bárbaros Germânicos. O golpe é dado pelo filho do imperador, Commodus (Joaquin Phoenix), herdeiro natural do trono que vê ameaçado o caminho natural da sucessão. Máximus, então, perde a família, o direito à liberdade, tornando-se um escravo que luta pela sobrevivência no Coliseu, para a satisfação de uma plateia ávida por sangue. Como no Papo de Cinema discordância é matéria-prima de reflexão, chamamos ao Confronto da semana os críticos Rodrigo de Oliveira e Willian Silveira, respectivamente defensor e atacante de Gladiador. E você, de que lado está? Confira.
A FAVOR :: “Reaviva os imponentes embates no Coliseu”, por Rodrigo de Oliveira
O gênero “sandálias e espada” estava morto e enterrado há muito tempo. Eis que surgiram Ridley Scott e Russell Crowe para reavivar os imponentes embates no Coliseu em Gladiador, vencedor de cinco Oscars, incluindo o de Melhor Filme. Os louros não são em vão. Scott e sua equipe conseguiram revisitar Roma como nunca antes no cinema. Por mais que filmes do gênero fossem populares no passado, não havíamos visto nada parecido, nem perto da suntuosidade da produção. Efeitos especiais impressionantes nos colocam na época do Pão e Circo. Se não bastasse este alto valor técnico, Russell Crowe interpreta o personagem de sua carreira, Maximus Decimus Meridius, um general que virou escravo, um escravo que virou gladiador, um gladiador que desafiou o imperador. Com diversas frases de efeito (que incomodam um pouco, é verdade) e uma cativante trilha sonora composta por Hans Zimmer, Gladiador não só ressuscitou um gênero defunto, mas deu início a uma das parcerias mais frutíferas entre diretor e ator da década passada, com Scott e Crowe repetindo a dobradinha diversas vezes. O elenco de apoio chama a atenção, com nomes como Joaquin Phoenix, Connie Nielsen, Djimon Hounsou e os saudosos Oliver Reed e Richard Harris.
CONTRA :: “Se perde na grandiloquência narcísica dos próprios planos”, por Willian Silveira
Gladiador inicia e penso “lá vamos nós”. Sou tomado por essa sensação sempre que filmes chegam a mim como vendedores preocupados mais comigo do que com seus produtos. Pensem em Frank Mackey, personagem de Tom Cruise em Magnólia (2000), por exemplo. Pensem em todos os vendedores que abordaram vocês fingindo intimidade e conhecimento das suas necessidades. Os negociadores da vez são Ridley Scott e Russell Crowe, trazendo consigo Gladiador, um grande produto. A história do general rebaixado, que precisou desafiar o Império para sobreviver, é impactante – como toda tragédia redentora – e tecnicamente imponente, diga-se. No entanto, ela é falsa. Recheado com cenas de autoimportância, com diálogos lapidados não para o enredo, mas para impressionar, Gladiador se perde na grandiloquência narcísica dos próprios planos. Voltado para arrebatar convertidos e distraídos, conquistou alguns prêmios, mas, preocupado consigo mesmo, jamais chegou perto do coração do público.
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Gladiador pode "se orgulhar" de ter inventado a decupagem típica de que nem sabe filmar batalhas corpo a corpo: assim que elas começam, a câmera apanha tanto quanto os envolvidos e é impossível em vários trechos saber quem é quem (Zack Snyder curtiu isso). Além de só permitir compreender o resultado dos embates para a trama após seu fim, a "técnica" já faz desconfiar da direção que, sem saber filmar uma situação específica, prefere avacalhá-la de vez. Junte-se a isso o fato de se tratar de um gênero defunto (e cinéfilo não é necromante nem urubu), que fala sobre a tão desgraçada jornada do herói e você tem a fórmula para o enfado. Um enfado chiquérrimo e embrulhado em latim (vulgar). Mas não menos chato.