Ao ser avisado de que havia recebido o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro na premiação dos Críticos de Cinema de Los Angeles, nos Estados Unidos, por Holy Motors, o cineasta francês Leos Carax reagiu com ironia, afirmando ser um feliz diretor de filmes estrangeiros, que prefere se dirigir somente à plateias estrangeiras, pois, segundo ele, “se nos EUA fazem filmes de língua não-estrangeira, filmes em língua estrangeira são os mais difíceis de serem feitos, pois é preciso inventar uma língua estrangeira ao invés de usar a linguagem costumeira”. E é com esse mesmo ar de deboche e galhofa que o cineasta encarou a perplexidade de muitos – e o entusiasmo de outros tantos – que receberam com reações extremas este seu mais recente projeto. Holy Motors recebeu nove indicações ao César – o Oscar francês – mas saiu de mãos abanando. Ainda que lembrado com um prêmio menor no Festival de Cannes, é um filme que não aceita a indiferença: ou se ama, ou se odeia. E é por isso mesmo que se tornou o candidato ideal para o Confronto desta semana, em que Marcelo Müller e Robledo Milani discutem seus méritos – ou a falta deles. Confira!
A FAVOR: “Metamorfoses literais e simbólicas numa homenagem ao cinema”, por Marcelo Müller
Magnata do ramo financeiro, criatura repulsiva, velha, assassino frio e calculista, homem de família, quem é o protagonista de Holy Motors? Todos e mais alguns, constantes metamorfoses literais e simbólicas que surgem prementes, necessárias. De parada em parada, Denis Lavant assume nova persona, mascara corpo e intenções para construir alguém distinto. A encenação expõe radicalmente nosso cotidiano social, no qual erigimos comportamentos camaleônicos diante das mais diversas situações. Em Holy Motors há, ainda, homenagem ao cinema. Os segmentos mimetizam gêneros como terror, drama, melodrama, musical, entre outros. Para além de elucubrações sobre estrutura, deve-se dizer: o filme guarda em si diversas observações de natureza sensitiva. Na ordem da imagem, o diretor Leos Carax cria sequências de plasticidade ímpar, mesmo em meio a conjunturas terríveis e atos extremos. Se pudesse escolher apenas uma fração, seria a do Mr. Merde, saído do esgoto para relativizar o conceito de beleza. Ou mesmo a final, onde os motores sagrados dialogam longe da nossa volátil humanidade.
CONTRA: “Atira para todos os lados sem acertar alvo algum”, por Robledo Milani
Magnata do ramo financeiro, criatura repulsiva, velha, assassino frio e calculista, homem de família, quem é o protagonista de Holy Motors? Todos, mas na verdade ninguém. Afinal, este é um típico exemplo daqueles filmes que atiram para todos os lados, sem acertar satisfatoriamente nenhum alvo. Recentemente, o decano crítico de cinema Enéas de Souza, em entrevista ao curta documental Os Filmes Estão Vivos (2013), afirmou: “Holy Motors só impressiona olhos virgens, pois tudo que mostra já foi visto antes inúmeras – e melhores – vezes”. Pois este é certamente o grande ponto de discussão desta obra hermética que sente prazer em não se comunicar com o espectador. Sua história é a não-história, seus atores são não-atores (a participação da cantora pop Kylie Minogue, num papel pensado para a top model Kate Moss, evidencia essa opção) e a direção parece buscar o maior distanciamento possível. Frio e repleto de abusos, vai da pornografia à violência explícita em suas tentativas pífias de chocar, mas tudo o que consegue é um lento, e progressivamente dominante, bocejo.
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Esse Confronto é muito bacana, principalmente por permitir acessar opiniões distintas e seus argumentos. Pra mim Holy Motors é tudo menos frio.