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Desde que reinventou Batman nas telonas, Christopher Nolan manda prender e manda soltar em Hollywood. Sua mais nova empreitada é Interestelar (2014), drama de grandes proporções, passado boa parte no espaço. O físico teórico norte-americano Kip Thorne, especialista em ondas gravitacionais, foi contratado como consultor para garantir que a narrativa mantivesse os pés nas evidências e nas mais aceitas especulações científicas, ainda que completamente comprometida com a ficção. As comparações com 2001: Um Odisséia no Espaço (1968) já eram esperadas, afinal de contas a obra-prima de Stanley Kubrick é uma referência quase incontornável quando o espaço vira cenário cinematográfico. Mesmo que a recepção do longa até o momento seja prioritariamente positiva, há aqueles que não veem tanto motivo para celebração. Para ampliar um pouco mais esse debate, chamamos ao Confronto da semana os críticos Renato Cabral, que certamente gostaria de deixar o filme perdido numa galáxia distante, e Thomas Boeira, que defende Interestelar como prova da existência de vida inteligente no cinemão americano. E você, de que lado está? Confira e não deixe de comentar.

 

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A FAVOR :: “Uma obra admirável em vários aspectos”, por Thomas Boeira
Interestelar é o filme mais ambicioso de Christopher Nolan. Isso não quer dizer necessariamente que é seu melhor trabalho. Há determinadas coisas difíceis de defender, como a discussão envolvendo o amor, que não se encaixa direito na narrativa, e alguns dos acontecimentos do terceiro ato, enfiados goela abaixo do espectador por meio de um deus ex machina. No entanto, mesmo assim o filme consegue ser uma obra admirável em vários outros aspectos. A ideia por trás da trama, que tem como base uma tentativa de salvação da humanidade, é muito interessante e calcada numa realidade futurística muito bem estabelecida. As pessoas, inclusive, estão em estado de retrocesso, negando grandes conquistas, como a chegada do homem à lua. Nesse sentido, não deixa de ser irônico que a aposta para a salvação seja exatamente uma exploração espacial. Além disso, Interestelar faz jus ao gênero de ficção científica, por desenvolver ideias complexas e explorar de maneira instigante a grandiosidade do universo no qual vivemos. São detalhes que somados à escala grandiosa do projeto resultam em uma jornada que prende a atenção do espectador. De quebra, Interestelar ainda se mostra tecnicamente impecável, não busca ficar no lugar-comum, e no fim é mais um ponto positivo na carreira de um ótimo diretor.

 

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CONTRA :: Em alguns momentos, parece um melodrama raso dos anos 50”, por Renato Cabral
Parece que o cinema decidiu voltar a explorar o espaço. Depois de títulos excepcionais como Prometheus (2012) e Gravidade (2013), o lançamento representativo do ano é a nova realização do diretor Christopher Nolan: Interestelar. Os três filmes citados trazem questões da sobrevivência e da essência da humanidade. Se Ridley Scott e Alfonso Cuarón decidem ir por um caminho mais dinâmico e imprevisível, parece que Nolan constrói seu épico espacial com uma narrativa de acontecimentos pobres, diálogos carregados, dando a entender que, em alguns momentos, assistimos a um melodrama raso dos anos 50, só que passado nas estrelas. Entre tantas camadas de tempo e espaço, Nolan repete o procedimento de A Origem (2010), ou seja, confunde seu público para que a pobreza e a superficialidade da narrativa passem imperceptíveis. Quentin Tarantino instigou imprensa e espectadores dizendo que Nolan coloca na tela os universos de diretores como Andrei Tarkovsky e Terrence Malick, abordando questões que envolvem a alma humana. Uma verdadeira ofensa a dois diretores de um nível tão superior e até mesmo à própria genialidade (já um tanto perdida) de Tarantino.

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