Jogador Nº 1 não se trata apenas de nostalgia ou de referências da cultura pop empilhadas na telona. Mas, de olhar para frente, aproximando, pela via do entretenimento, dimensões aparentemente cindidas. O real e o virtual são aqui imbricados, por conta da construção de um amanhã que extrapola o conceito da internet. Steven Spielberg mira adiante, mostrando um duro contraste entre o palpável degradado, vide as favelas, o sucateamento da convivência cotidiana, e a possibilidade de escapar ao reino da fantasia, espaço logo corrompido pela mesma ”humanidade” que corroeu cidades, transformando-as em amontoados de lixo. Grandes corporações (re)produzem dominação, adaptando-se para perpetuar poder. O protagonista, ao contrário, quer apenas se deleitar, apaixonar-se, expandir a consciência para além dos limites de sua pobreza material. Estamos diante de um entretenimento que faz jus à denominação. Quem, a não ser o nerd máximo dos cineastas da Nova Hollywood, poderia nos proporcionar tal desfile de figuras entranhadas no nosso imaginário, sem fazer disso mera sucessão de referências? Quem, a não ser um dos mais inventivos artistas cinematográficos dessa prole de visionários, homenagearia Stanley Kubrick com tamanha propriedade e carinho? Jogador Nº 1 é uma declaração de amor de Spielberg aos nerds, ao conhecimento acumulado por uma fatia de gente que, muitas vezes, buscou (ainda busca) na ficção o refúgio às suas dificuldades de expressão e convivência. O longa-metragem é uma ode aos garotos e garotas – alguns, hoje, já não tão jovens – afagados a cada personagem surgido diretamente daquele vídeo game clássico, filme oitentista ou de um programa outrora imperdível da televisão. É a homenagem de Spielberg a uma geração, mas com os olhos voltados ao porvir, de preferência, sem grandes conglomerados a ditar o que devemos ou não consumir. É uma bela utopia futurista para esse presente tão nefasto, além de divertido como poucos filmes recentes.
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