É chegado o derradeiro capítulo das proezas de Katniss Everdeen, o tordo que simboliza a insurreição contra os desmandos da Capital. Jogos Vorazes: A Esperança – O Final (2015) está há quatro semanas no topo das bilheterias norte-americanas, não fazendo nada feio no restante do mundo, inclusive no Brasil, onde também encabeça a lista dos mais vistos. Cativado pelos filmes anteriores, o público está propiciando um encerramento com chave de ouro à saga cinematográfica adaptada dos livros de Suzanne Collins, principalmente no que tange ao âmbito comercial. A crítica, por sua vez, não raro tem torcido o nariz para o longa-metragem dirigido por Francis Lawrence. Para colocar mais lenha nessa fogueira, chamamos ao Confronto da semana os críticos Matheus Bonez e Yuri Correa, respectivamente atacante e defensor da aventura protagonizada por Jennifer Lawrence. Confira e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “Realizado de forma madura e sóbria, este desfecho é honesto e fantasioso”, por Yuri Correa
Os livros de Suzanne Collins, ao contrário de outras sagas literárias de sucesso, não trazem uma reflexão universal semelhante a que vai tornar, por exemplo, Harry Potter uma obra atemporal. Sua história é o reflexo específico de um tempo, do que acontece agora. Deste modo, sua criação apresenta um valioso recorte da nossa realidade, ao qual não podemos dar a relevância total, pois estamos ainda passando por ela. Como os contos de Verne ou Asimov, e livros como Admirável Mundo Novo, 1984 e Fahrenheit 451, Jogos Vorazes vai encontrar seu espaço na história como uma ficção que projeta medos do presente num distópico futuro, servindo como estudo de ambos. Os filmes, como forma de disseminação em massa de sua mensagem, são extensões naturais de sua notabilidade. Realizado de forma madura e sóbria, este desfecho é honesto e fantasioso, nos apresentando um desenrolar verossímil e pouco orgânico que conseguimos antecipar, e que justamente por isso é fantasioso, trazendo uma catarse com a qual só a ficção poderia nos presentear. O sentimento ao final não é bom, o que torna a obra ainda mais eficiente, sem contar a forma pouco sutil com que ela traz homens brancos fragilizados enquanto mulheres e negros assumem posições de empoderamento.
CONTRA :: “Uma história com tanto potencial merecia um encerramento melhor”, por Matheus Bonez
A primeira parte do último capítulo da saga já dava a entender que as coisas degringolaram na série estrelada por Jennifer Lawrence. Se o episódio anterior sofria da monotonia causada pelo estica e puxa da história original em que é baseada, as questões ficam muito mais evidentes com o final de tudo. Espera-se que o filme tenha mais ação, afinal, todos os discursos possíveis já foram feitos anteriormente. Porém, temos mais 40 minutos de pura enrolação, que não desenvolvem os personagens, apenas atravancam tudo. Dava pra cortar uma hora da primeira parte, mais uns 45 desta segunda e fazer um filme interessante de duas horas, talvez alguns minutos mais. Entre tantas obviedades, já era bem claro desde o longa do ano passado o que a tal personagem que surgiu neste terceiro capítulo faria. Ou seja, suspense zero. Só cego não viu (e olhe lá). A ação é interrompida diversas vezes, um desperdício consecutivo de dois potenciais ótimos clímax (a cena das bombas na multidão e o “disparo de misericórdia”). E aquele finalzinho “mamão com açúcar” que desmerece todo o feminismo construído sobre a protagonista? Não deu pra engolir. Os fãs da série que me perdoem, mas uma história com tanto potencial merecia um encerramento melhor.