Dirigido por Gary Ross, Jogos Vorazes chegou às telas em 2012, chancelado pelo sucesso do original literário escrito por Suzanne Collins. Ávidos por rótulos, alguns disseram que se tratava do novo Harry Potter, mais por conta do modelo de negócio no qual o pacote estava ancorado, que propriamente por suas características. A trama se passa num futuro regido pelo totalitarismo, onde anualmente ocorre evento/reality show de vida e morte, os chamados Jogos Vorazes. Nele, dois representantes (um menino e uma menina, de 12 a 18 anos) de cada distrito governado pela Capital digladiam até a morte de quase todos para, em tese, a sobrevivência de apenas um. Protagonizado pela estrela em ascensão, a agora oscarizada Jennifer Lawrence, Jogos Vorazes pegou muita gente de surpresa, pois, mesmo sendo exemplar voltado em princípio aos jovens, trata de temas complexos. O público respondeu muito bem nas bilheterias, boa fatia da crítica se animou com a maturidade do longa e estava, então, estabelecida nova franquia. Mas também há os que acharam tudo meio fake e pseudo-politizado, ou seja, mais do mesmo, só que disfarçado de filme-cabeça. Então, escalamos Danilo Fantinel, do distrito descontente, e Dimas Tadeu, do distrito entusiasta, para o Confronto da semana. Claro, quem ganha somos nós, em mais um embate sadio e repleto de boas ideias. Confira.
A FAVOR ::“Raro resquício de vida inteligente entre as adaptações de livros para jovens adultos”, por Dimas Tadeu
Numa época em que os sucessos adolescentes do cinema são não apenas idiotas, mas cinematograficamente decepcionantes – caso da Saga Crepúsculo – é um alento ver que há espaço para um filme que saiba equilibrar o gosto da garotada com qualidade técnica e estética. Só por isso, a série Jogos Vorazes mereceria atenção diferenciada: com influências óbvias do violentíssimo cult japonês Battle Royale, o primeiro filme da saga, dirigido por Gary Ross, acabou se provando também competente em agradar até quem não liga muito pra séries literárias teen. Jennifer Lawrence lidera com maestria um elenco carismático e que, do seu jeito, dá conta do recado. O roteiro mantém o interesse e constrói tensão até o clímax, que além de fundo político, tem traços de crítica midiática. Se a saga manterá a qualidade do primeiro filme é um mistério, especialmente após a troca do diretor. Mas o longa segue sendo diversão de qualidade e um raro resquício de vida inteligente entre as adaptações de livros pra jovens adultos.
CONTRA ::“Livro e filme se mostram um pastiche simplório”, por Danilo Fantinel
Em um cinema industrial tomado por sagas, aventuras teen, remakes e roteiros megalomaníacos e redundantes, o cinema hollywoodiano agradece a existência de produtos lucrativos como Jogos Vorazes. Porém, a história de Suzanne Collins peca pela colossal falta de originalidade. Emula um futuro distópico genérico com ecos de conto de fadas e forjado na releitura de obras sobre o ocaso de populações subjugadas pelo totalitarismo. Com um romance heroico raquítico, literalmente perdido entre a farsa e a realidade da trama, a autora reúne elementos da cultura pop para apresentar um enredo pretensamente autêntico. Traduzindo violência em um reality show inflacionado pelo glamour e esvaziado de crítica, livro e filme se mostram um pastiche simplório, reunindo traços do melhor e do pior da distopia ficcional e da vida real televisionada. Combina Admirável Mundo Novo, 1984, Os Selvagens da Noite (1979), Fuga de Nova York (1981), Mad Max – Além da Cúpula do Trovão (1985), O Show de Truman (1998), Battle Royale (2000), Corrida Mortal (2008), Gamer (2009) e programas de TV trash, como American Gladiators e Survivor para entregar um pacote referencial e pouco reverente, consumido aos montes por audiências virgens e sedentas.