Nem os prognósticos mais otimistas previram que Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015) alcançaria números tão expressivos de bilheteria, e se tornaria, inclusive, a estreia de maior arrecadação de todos os tempos, ao faturar quase 210 milhões de dólares nos Estados Unidos, em apenas três dias. O novo filme da franquia produzida por Steven Spielberg é dirigido pelo novato Colin Trevorrow e ignora O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997) e Jurassic Park III (2001), sendo assim uma continuação direta de Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993). Bola da vez em Hollywood, Chris Pratt assume a posição de protagonista, herói que precisa salvar o dia contra a horda de animais pré-históricos que ameaça os humanos. Estamos diante de um blockbuster digno do dinheiro arrecadado ou de mais um produto sem muita consistência, teleguiado ao sucesso pela mediocridade vigente? Confira o Confronto da semana, no qual Conrado Heoli e Yuri Correa debatem os méritos e os deméritos de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros.
A FAVOR :: “Funciona como homenagem ao primeiro filme”, por Yuri Correa
O parque dos dinossauros finalmente virou realidade, e pontuais falhas no desenvolvimento dos personagens que o habitam não fazem a nova visita a Ilha Nublar ser menos empolgante. Trata-se, afinal, de um clássico thriller no estilo criatura versus criador(es), e acusá-lo de seguir uma fórmula é o mesmo que acusar Moulin Rouge (2001) de ter músicas por ser um musical, ou Transformers de ter explosões por ser um filme do Michael Bay. Não, a eventual fuga da Indominus-Rex, que converte a trama na conhecida caçada em que as posições de caça e caçador mudam de uma hora para outra, não é demérito algum ao filme dirigido com muita competência pelo novato Colin Trevorrow, responsável por cenas de ação muito claras e que, por isso mesmo, divertem. Além disso, o longa-metragem não só funciona como homenagem ao primeiro filme, com inúmeras referências, como também usa estes momentos para se comentar: “o original não precisava de híbridos”, diz um dos personagens. Para completar, Jurassic World até mesmo conserta alguns erros das outras (e falhas) continuações, sendo especialmente prazeroso ver o T-Rex arrebentar com o esqueleto de um Spinossauro para fazer uma entrada bacana, num filme que sai bonito de cena.
CONTRA :: “Ignora a inteligência do espectador”, por Conrado Heoli
Quarto filme da série e o primeiro após um hiato de 14 anos, Jurassic World oferece um novo parque temático administrado por empreendedores sem talento para antecipar desastres, numa produção que carece de qualquer razão para existir além de suas intenções comerciais. Como nos filmes anteriores, a mágica acontece quando algo dá errado e a criatura ameaça o criador, o que desta vez se torna ainda mais interessante ao considerarmos os 20 mil turistas presentes na Ilha Nublar. No entanto, com exceção de uma sequência que emula alguma tensão enquanto simula Os Pássaros (1963), repete-se aqui o mesmo limitado esquema de sempre. O cineasta Colin Trevorrow transforma sua protagonista feminina numa espécie de Ripley sobre saltos, faz o que pode para evitar a caricatura inerente do vilão de Vincent D’Onofrio e aposta todas suas fichas no carisma de Chris Pratt. O visual dos dinossauros continua interessante, mas a batalha final que faz lembrar Godzilla contra Mothra coloca tudo a perder. Jurassic World ignora a inteligência do espectador e celebra o dinheiro e não a ciência; trata-se de um blockbuster de orçamento infinito que acusa a ganância corporativa enquanto anuncia marcas e produtos a cada segundo.