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Confronto :: La La Land

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La La Land: Cantando Estações (2017) recebeu impressionantes 14 indicações ao Oscar 2017, igualando-se, assim, a Titanic (1997) e A Malvada (1950) como recordista. O longa-metragem do diretor Damien Chazelle foi o grande vencedor do Globo de Ouro, além de levar para casa outros prêmios importantes que servem de termômetro às estatuetas principais de Hollywood. Enquanto alguns exaltam o filme como uma lufada de qualidade, bela homenagem aos musicais do passado, outros questionam, às vezes veementemente, o barulho em torno dele. Aliás, não é incomum acompanhar debates acalorados nas redes sociais, e mesmo nas rodas informais de conversa cinéfila, a respeito da produção protagonizada por Ryan Gosling e Emma Stone.

Como soubemos que vocês estavam com saudade do nosso Confronto, resolvemos ressuscitar a coluna para tentar responder à pergunta: La La Land: Cantando Estações é tudo isso, realmente? Marcelo Müller, prata-da-casa, entende ser válida toda a atenção que ele vem recebendo. Já Diego Benevides, presidente da Associação Cearense de Críticos de Cinema e crítico do Diário do Nordeste, nosso convidado especial, relativiza os predicados da realização de Chazelle. De que lado você fica neste embate (sadio, sem brigas) de ideias? Confira e não deixe de comentar.

 

 

A FAVOR :: Um filme colorido, vibrante, que discute nas entrelinhas a eterna briga entre o velho e o novo.” – por Marcelo Müller
A expectativa era grande, afinal de contas não se fazem mais musicais como antigamente. E Damien Chazelle criou um longa-metragem verdadeiramente pulsante. Já na cena inicial fica evidente o orgulho de sua filiação a um gênero que volta e meia ressurge para revelar-se ainda relevante. O envolvimento dos personagens de Ryan Gosling e Emma Stone tinha tudo para transitar por uma senda de romantismo puramente idealizado. As músicas são empolgantes e as coreografias, embora bastante elaboradas, refutam o requinte da sincronia, como que para deixar claro, na instância da forma, exatamente que não há perfeição, tampouco para um relacionamento que parecia inclinado ao final feliz. Chazelle faz um filme colorido, vibrante, que discute nas entrelinhas a eterna briga entre o velho e o novo, a tradição e a modernidade, inclusive no que tange às relações humanas. Em meio à contagiante trilha sonora, sobressaem determinados silêncios imprescindíveis para enxertar doses de cotidianidade no namoro atravessado, então, tanto por passagens idílicas quanto por crises. Repleto de referências ao apogeu dos musicais, sobretudo os hollywoodianos, o provável vencedor do Oscar encanta pela beleza e emociona por conta do registro de dificuldades prosaicas. Não é o melhor concorrente à cobiçada estatueta dourada, mas isso não diminui em nada suas muitas qualidades.

CONTRA :: “Comum e nada extraordinário.” por Diego Benevides
Na indústria que vive da nostalgia, seja pelas inúmeras franquias que revivem histórias antigas ou pelos filmes que usam a desculpa das referências (mais sentimentais do que estéticas), é fácil entender o fenômeno deste filme. Primeiro porque ele se refere principalmente às comédias românticas boy meets girl que estamos cansados de ver. Se olharmos mais a fundo do roteiro, em nada se diferencia ou contribui para o segmento, mas pega de jeito pela simpatia do casal de protagonistas.  Depois, vem a homenagem aos musicais clássicos (que eu amo, diga-se de passagem), perdida em referências óbvias que não levam o filme para outro lugar dentro do cinema contemporâneo, só reproduzindo um olhar passado. Dito isso, parece que Damien Chazelle sabia muito bem aonde queria chegar (o desfecho é uma delícia!), mas a trajetória até lá não sai do lugar-comum. A busca pelos sonhos, a superação e a conquista seguem as linhas rasas de conflito, que nunca crescem em mais de duas horas de projeção. Vale dizer que o olhar treinado de Chazelle faz da experiência audiovisual algo mais confortável, ancorado por uma parte técnica tão controlada que parece não ter erros (é aqui onde entra o Oscar). Ainda assim, a fabricação do longa como um produto irreverente o transformou em algo bem maior do que ele suporta, quando, na verdade, é um filme comum e nada extraordinário.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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