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Confronto :: Livre

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A trama de Livre (2015) é inspirada no livro de memórias Livre: A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço, escrito por Cheryl Strayed. Nos cinemas, a jovem que decide jogar tudo para o alto, apostando no contato mais puro (e solitário) com a natureza depois de uma fase de excessos e autodestruição, é interpretada por Reese Witherspoon, que, aliás, concorre por este trabalho ao Oscar de Melhor Atriz. Dirigido pelo canadense Jean-Marc Vallée, cineasta festejado por filmes como C.R.A.Z.Y.: Loucos de Amor (2005) e, mais recentemente, Clube de Compras Dallas (2013), Livre divide opiniões. Se por um lado muita gente gostou dessa jornada de autoconhecimento, por outro há os que acharam meio piegas as andanças de Cheryl pela Pacific Crest Trail. Para botar mais lenha na fogueira, chamamos ao Confronto da semana os críticos Robledo Milani (atacante) e Thomas Boeira (defensor). Confira e não deixe de opinar.

 

A FAVOR :: “O filme faz um estudo de personagem admirável”, por Thomas Boeira
Passar por um período de completa perdição não valeria à pena caso isso nos colocasse na direção certa para seguir a vida? É uma reflexão curiosa proporcionada por Livre, novo trabalho de Jean-Marc Vallée, que traz uma atuação inspiradíssima de Reese Witherspoon. Acompanhando a longa jornada de Cheryl Strayed pela Pacific Crest Trail (PCT), o filme faz um estudo de personagem admirável, se concentrando nessa mulher que passou momentos autodestrutivos, mas que vê em seu desafio a possibilidade de superar todos os problemas. Assim, é interessante notar que cada obstáculo é uma espécie de representação dos erros e dificuldades que assombraram seu passado, elemento apresentado em uma série de flashbacks inseridos organicamente pelo brilhante trabalho de montagem do próprio Vallée e de Martin Pensa. Livre pode até ter um desfecho um tanto simplista, mas isso não chega a tirar seus méritos enquanto bela história de autodescoberta.

 

CONTRA :: “Falta conteúdo, motivações e refinamento em sua estrutura”, por Robledo Milani
Este deveria ser “O” filme do ano, assim mesmo, em letras maiúsculas. O diretor é o badalado Jean-Marc Vallée, recém-saído do oscarizado Clube de Compras Dallas (2013). O roteiro é do hypado escritor inglês Nick Hornby, o mesmo do cultuado Alta Fidelidade (2000). E a protagonista é Reese Witherspoon, atriz vencedora do Oscar buscando um urgente comeback que a tirasse do quase ostracismo dos últimos anos. A mistura tinha todos os ingredientes indicados, mas qual é o resultado? Um pastiche do muito superior Na Natureza Selvagem (2007). Seria uma incoerência afirmar que essa é apenas uma versão feminina da bela obra dirigida por Sean Penn: lhe falta conteúdo, motivações e refinamento em sua estrutura para sequer poder ser comparado ao trabalho anterior. Se nos dois filmes temos como condutores personagens que partem para um contato mais próximo com a natureza, a fim de encontrarem a si próprios, o que vemos agora nos cinemas é uma mocinha mimada que resolve jogar a vida no bueiro após sofrer uma tragédia natural – afinal, o que lhe aconteceu irá suceder a quase todos nós, em um ponto ou outro da nossa trajetória. Longe de poder ser considerada vítima do destino, seu maior sofrimento é um sapato apertado – e que logo será substituído por outro de um número maior, e como cortesia da loja que o vendeu. Ah, se todos os problemas – da realidade e da ficção – pudessem ser resolvidos tão facilmente.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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