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O sempre controverso Gaspar Noé sacudiu o Festival de Cannes este ano com Love (2015), filme no qual o pudor não tem vez e o amor é visto, inclusive, em seu âmbito mais carnal. A primeira cena mostra um casal se masturbando até que ele atinja ao orgasmo. O sexo explícito é recorrente na trama centrada num homem entediado no casamento, que rememora o relacionamento tão intenso quanto tempestuoso que teve com uma mulher então desaparecida. A ousadia de Noé foi celebrada por muitos e questionada veementemente por outros tantos. Candidato forte a filme-polêmica maior da temporada, Love protagoniza o nosso Confronto da semana. De um lado, Danilo Fantinel defende os méritos do longa. Do outro, Renato Cabral se foca nos deméritos, para ele abundantes. E você, o que achou da realização do franco-argentino? Confira e não deixe de opinar.

 

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A FAVOR :: Uma selfie cinematográfica sobre o discurso afetivo do nosso tempo”, por Danilo Fantinel
Sexo, amor e tragédia se encontram mais uma vez com Gaspar Noé. Provocador, o cineasta volta a meter o dedo onde não deve(ria) para lembrar a todos o quanto somos puramente humanos, reles animais racionais/sexuais muitas vezes movidos mais pela pulsão do que pela razão. Love, assim como Irreversível (2003), esconde atrás de sua casca grossa uma crítica social apurada que expõe o sujeito ordinário em sua vida comum perdendo o controle e colidindo com o submundo – sendo este tanto real quanto existencial. Neste choque, o indivíduo regular pode mostrar truculência física e mental extraordinárias. Se em Irreversível um homem parte para a punição sanguinária para vingar o estupro sofrido pela mulher, provocando resultados irreparáveis, em Love os namorados de uma relação muito livre entram em crise após uma sequência de traições quase simultâneas. Disso para a tragédia é um pulo, porém este é recortado e reestruturado pela montagem fílmica descontínua de Noé. Com cuidado estético e fotográfico, o franco-argentino apresenta um aspecto da atual e confusa configuração do amor nos anos 2000. Mais do que isso, como diretor e ator, faz uma selfie cinematográfica sobre o discurso afetivo do nosso tempo ao apresentar uma narrativa verborrágica cujo conteúdo superficial reflete o vazio contemporâneo. Nesse vácuo, muito se fala e pouco se entende.

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CONTRA :: Um filme sem conteúdo algum”, por Renato Cabral
Com Love, Gaspar Noé nos limita a uma sensação de amadorismo e um quê de brega. O sexo sempre foi encarado com grande pudor no cinema, pouco se mostra e pouco se diz sobre, com raras exceções. Lars von Trier tentou em Ninfomaníaca (Volumes I e II, 2014), mas o sexo e a nudez ali eram meros coadjuvantes numa história sobre aceitação, amor e família. Aqui, no filme de Noé, o ponto de partida é o sexo, o amor visto por esse viés carnalmente explícito. A história é contada em flashbacks de um relacionamento complicado entre o casal autodestruitivo Murphy e Electra. E, com isso, vem toda uma choradeira e alguns arrependimentos do garoto, ao perceber que sua ex está provavelmente morta, talvez vítima de uma overdose. Em determinado ponto parece que Noé retrocedeu seu cinema, apresentando um filme sem conteúdo algum, apenas com belíssimos corpos nus em movimento e uma fotografia intocável. O que poderia ser uma desconstrução bonita e riquíssima se torna enfadonho. Falta ritmo, falta tesão e coerência. A produção consegue ser tão contraditória e perdida (e não vale usar como justificativa a psique dos personagens) que o choque gráfico se perde em meio a tanto machismo e misoginia presente. Sobra uma indignação que paira no ar como a gozada direta em 3D no rosto do espectador, algo que está longe de ser transgressor, se mostrando apenas previsível e bobo.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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