A tendência à megalomania do cinema de Darren Aronofsky atinge aqui o seu ápice. Este filme retrabalha, e amplia, todas as obsessões referentes à temática bíblica – sempre presente em suas obras – envolvendo-as num emaranhado alegórico que, ao buscar significar tudo, acaba perdido num vazio estilístico e provocativo. A expectativa inicial de um terror psicológico na linha de O Bebê de Rosemary (1968) se esvai, para além de certas referências diretas ao clássico de Roman Polanski, à medida que o cineasta ignora por completo o poder da sugestão, um dos elementos mais caros aos filmes que dialogam com tal subgênero, promovendo uma saraivada incessante de símbolos explícitos desprovidos de qualquer tipo de sutileza. Na busca pelo choque reativo a cada nova cena, Aronofsky entrega um espetáculo perverso e grotesco sobre, entre dezenas de outras coisas, a condição de ser mulher, impondo uma série de flagelos à personagem de Jennifer Lawrence sob um olhar passivo, muito aquém de seu potencial reflexivo. Mais uma vez, a capacidade do diretor, demonstrada nas raras vezes em que se desarma de seu arsenal de afetações, como em O Lutador (2008), de longe seu melhor trabalho, termina encoberta por uma necessidade autoral grandiloquente e nociva, fazendo com que a economia pungente vista no longa protagonizado por Mickey Rourke pareça cada vez mais esquecida dentro do repertório de seu criador, soando como um lampejo isolado de humildade e de noção do uso do comedimento em favor da construção narrativa. Pois, enquanto continuar a conceber seus filmes em favor da satisfação própria, e não da história contada, só se pode esperar de Aronosfsky novos produtos como esta jornada messiânica, cujo rumo é desviado completamente do aspecto sadio da ambição artística para a egolatria absoluta.
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