destaque e1396974875838

A Bíblia parece mesmo uma fonte inesgotável de inspiração a determinado produto hollywoodiano. Algumas narrativas do chamado “Livro Sagrado”, em virtude da complexidade de suas reproduções cinematográficas, acabam restritas ao poderio financeiro dos estúdios americanos, salvo raras e bem-vindas exceções. De qualquer maneira, seja com grandes ou pequenos orçamentos, mexer com a Bíblia é saber-se num potencial vespeiro. Noé (2014) é o mais novo filme a utilizar personagens bíblicos que povoam nosso imaginário desde muito cedo (sejamos nós religiosos ou não). E esse épico grandiloquente tem dividido opiniões. Para enriquecer o debate, gerado espontaneamente mais até em virtude do material original, convocamos Robledo Milani e Yuri Correa, respectivamente ataque e defesa da recente realização de Darren Aronofsky. Confira e não deixe de opinar.

 

favor1 e1396974945127

A FAVOR :: “Ótimo filme de ficção, com conflitos bem construídos”, por Yuri Correa
Preservando sua unidade narrativa, Aronofsky traz outra vez um personagem atormentado por uma missão a ser cumprida com perfeição, sendo bastante fiel ao livro que originou este Noé. Provavelmente, o longa poderá ser rejeitado justo por aqueles que apoiam sua fé com fervor sobre os escritos do velho testamento. Pode-se imaginar a dificuldade de alguns ao “lidar” com os gigantes (Gênesis 6:4), por exemplo. As alterações e enxertos existem e estão lá para unir de maneira fluída o texto episódico do Gênesis, sendo uma expansão do que está escrito e jamais configurando distorção ou desrespeito. Para aqueles a quem a Bíblia não passa de mais um exemplar qualquer, porém, Noé também funciona, uma vez que é um ótimo filme de ficção, com conflitos bem construídos, boas performances, e que se desenvolve a partir de um protagonista complexo e multifacetado, cuja boa índole é testada pelas tarefas que um ser superior o designa a realizar. Há um questionamento que o cineasta não deixa passar em branco, inclusive abrindo espaço diversas vezes para a exposição do mesmo: não é contraditório salvar a raça humana da maldade por meio de um ato de maldade? Aronofsky deixa para o espectador responder essa.

 

contra2 e1396975014596

CONTRA :: “Ao invés de um trabalho sério, o diretor opta por um caminho de exageros e redundâncias”, por Robledo Milani
No cinema de Darren Aronofsky é característica a presença de protagonistas atormentados por suas próprias escolhas de vida, sejam elas de natureza teórica, filosófica ou mesmo prática. Em Noé, no entanto, ele decide contar a história do mais problemático dos personagens, aquele cuja decisão originária de transtornos foi a de simplesmente atender a um chamado divino. Porém, ao invés de proporcionar a dimensão exata desse evento insólito meramente através dos acontecimentos – por si só donos de um potencial singular – o diretor opta por um caminho de exageros: trilha sonora redundante e constantemente apoteótica, repetida à exaustão até perder sua força; personagens sem nuances nem profundidade, que apenas reagem às forças externas, sem desenvolver seus dramas; e efeitos especiais fantasiosos que soariam mais apropriados em um projeto infanto-juvenil, e não na narração de um dos mais famosos e importantes episódios bíblicos. As presenças de “Percy Jackson” e da melhor amiga de Harry Potter, convocados especificamente para conquistar uma parcela mais jovem da audiência, não contribuem para a seriedade da obra. E se nada disso foi suficiente para arrefecer os ânimos, há ainda gigantes de pedra vindos diretos da Terra Média ou de qualquer aventura do Superman!

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar

avatar

Últimos artigos de (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *