Pablo Larraín é atualmente um dos nomes mais celebrados do cinema latino-americano. Após a consagração de Tony Manero (2008), Post Mortem (2010), e, sobretudo, de No (2012), que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, normal que as expectativas de outro êxito fossem redobradas. O Clube (2015), recentemente lançado nos cinemas, se passa numa propriedade inóspita na costa chilena, onde convivem padres e uma freira. A rotina é preenchida com orações e o treinamento de um cão de corrida, até que a presença de forasteiros estremece tudo. Aplaudido por onde passou, contudo, o longa não é uma unanimidade, como vemos neste Confronto que coloca frente a frente nosso convidado Bruno Giacobbo, do site Blah Cultural, e o prata-da-casa Danilo Fantinel. E você, está do lado do atacante ou do defensor de O Clube? Confira e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “Alterna discurso contundente com sonoros silêncios”, por Danilo Fantinel
Há sacerdotes tarja preta que até mesmo a cúpula da Igreja católica chilena gostaria de esquecer. Como não pode, conduz os mais perigosos delinquentes de batina, como pedófilos e colaboradores da ditadura militar, a férias forçadas em uma casa à beira-mar localizada em uma cidadezinha bem distante da cúria. Nesta residência final, sob um céu constantemente nublado, padres e uma falsa irmã comem de tudo, bebem todas, cantam e rezam para todos os santos, mas veneram mesmo um cão de corrida vencedor que lhe proporciona infiéis somas em dinheiro. A tranquilidade acaba com dois toques à porta. No primeiro, um homem sexualmente violentado quando criança por um pároco busca explicações para as causas de sua confusa inquietação, que o faz transitar no obscuro limiar entre a fé corroída pela descrença carnal e a blasfêmia ungida pela ambiguidade do dogma. No segundo, um representante da nova geração eclesiástica chega para dar fim às condutas quase pagãs destes quase excomungados. Juntos, os visitantes instauram uma Inquisição às avessas, na qual clérigos corruptos pagarão convivendo com o produto de seus crimes. Com estética fria, descolorida, e alternando discurso contundente com sonoros silêncios, Daniel Villalobos, Guillermo Calderón e Pablo Larraín ajudam a desmontar o que já está em desconstrução.
CONTRA :: “O filme não contribui com a discussão de como a Igreja deveria agir em relação aos crimes cometidos em seu seio”, por Bruno Giacobbo
Sonho que estou celebrando uma missa, mas eu não era bem um padre. Só estava celebrando a missa. Talvez eu fosse um daqueles padres casados, da antiga Tchecoslováquia, prática permitida durante um tempo para protegê-los da ditadura. E, à tarde, vou assistir a O Clube, de Pablo Larraín, filme que está sendo vendido como uma crítica à pedofilia praticada por religiosos, mas vai além. Na casa que batiza o filme, quatro padres e uma irmã vivem em uma espécie de regime monástico. Cada um fez algo condenável. Seguindo uma rotina rígida, eles vivem em paz. No entanto, a chegada de um novo morador, o único pedófilo da história, acaba com a tranquilidade deles. Dito isto, o filme tem méritos inegáveis, como a fotografia cinza-azulada que ajuda a transmitir o clima claustrofóbico e boas atuações, mas deixa a desejar ao não contribuir com a discussão de como a Igreja Católica deveria agir em relação a crimes cometidos em seu seio. Não contribui, não denuncia, apenas retrata, e ainda consegue ser ofensivo por generalizar e vender a ideia de que padres são só aquilo. A cena em que eles são mostrados agindo como uma quadrilha é o ápice desta visão torta.
Últimos artigos de (Ver Tudo)
- Top 10 :: Dia das Mães - 12 de maio de 2024
- Top 10 :: Ano Novo - 30 de dezembro de 2022
- Tendências de Design de E-mail Para 2022 - 25 de março de 2022
Deixe um comentário