Grandes sucessos (de público e/ou crítica) podem ser como camisas de força para alguns cineastas. Exemplo disso é Matrix (1999), filme com o qual todos os demais de Andy e Lana Wachowski são e serão inevitavelmente comparados. O Destino de Júpiter (2014), ficção científica com elementos de aventura, é a nova aposta dos irmãos, eles que andaram declarando por aí total desilusão com o cinema atual. Na trama, Júpiter Jones (Mila Kunis), a próxima na linha de sucessão ao trono de Rainha do Universo, leva uma vida pacata (pois ignorante a respeito de seu sangue real) até receber a visita de um ex-militar geneticamente modificado, Caine (Channing Tatum), cuja missão é protegê-la. Mais uma vez, as reações ao trabalho dos Wachowski estão bastante divididas. Então, para botar lenha na fogueira, convidamos ao Confronto desta semana os críticos Robledo Milani e Yuri Correa, respectivamente atacante e defensor de O Destino de Júpiter. E você, satisfeito ou com ainda mais saudade de Matrix? Confira e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “Longa-metragem incrivelmente carismático”, por Yuri Correa
Seria muito fácil atacar o novo filme dos irmãos Wachowski. Convenhamos, essa frase poderia ser aplicada a qualquer uma de suas realizações, e isso desde Matrix. Speed Racer (2008), entretanto, é uma aventura empolgante e incompreendida, enquanto A Viagem (2013), um belíssimo e ousado drama. O Destino de Júpiter, nesse panorama, é de fato o mais irregular dos filmes de Andy e Lana: não há um tom de urgência nas ameaças que pairam sobre os personagens, muito por causa de um vilão ausente, o roteiro é convencional e há vários temas recorrentemente bem abordados na filmografia da dupla, que aqui surgem pobremente explorados. Apesar disso, o longa-metragem se mostra incrivelmente carismático, com Kunis e Tatum fazendo bonito, e sendo divertido e visualmente fascinante o suficiente para suprimir esses óbvios problemas. E, como assim, Eddie Redmayne está over?! O seu personagem é um lorde milenar mimado e intocável morando dentro (!) do planeta Júpiter, segurado por lagartos alados gigantes… Sério, o que há mesmo de tão destoante na sua performance?! Não que estejam no mesmo nível, longe disso, mas seguir essa lógica e rejeitar o filme dos Wachowski por sua primeira estranha impressão é dar abertura para questionar porque não fazer o mesmo com Star Wars, Star Trek, O Senhor dos Anéis, Harry Potter ou qualquer outro projeto que nos introduza a novos e fantásticos universos.
CONTRA :: “Com tantos problemas envolvidos, poderiam levar a vida inteira que não se teria uma obra digna que qualquer atenção”, por Robledo Milani
Programado inicialmente para chegar aos cinemas durante o verão norte-americano (período tradicionalmente conhecido como os das maiores bilheterias do ano) de 2014, este mais recente longa assinado pelos irmãos Wachowski foi adiado por mais de seis meses por questões referentes à sua finalização. A versão oficial afirma que era preciso mais tempo para melhorar os efeitos visuais, mas qualquer bom entendedor sabe que isso significa que em exibições-teste as impressões do público foram as piores possíveis e estão tentando remendar aquilo que já é ruim. Porém, com tantos problemas envolvidos, poderiam levar a vida inteira que não se teria uma obra digna que qualquer atenção. Channing Tatum (um alienígena bronco com DNA de lobo albino que gosta de surfar com botas antigravitacionais) e Mila Kunis (uma faxineira que descobre ser Rainha da Terra e reencarnação da mãe de três aliens viciados em beleza eterna) não possuem a menor química juntos, e quando finalmente se beijam provocam mais risos de constrangimento do que de satisfação. A trama, rocambolesca até não poder mais, tem mais furos que uma peneira, e qualquer um que tente explicá-la irá simplesmente perder seu tempo. No mais, resta um carnaval intergaláctico em que nada faz sentido, apenas o bocejo da plateia, que confirma que Matrix foi mesmo uma exceção na filmografia destes realizadores, e não um exemplo da (falta) de talento deles.