Robert Zemeckis pagou caro pela vanguarda, isso se levarmos em conta as muitas críticas negativas feitas a O Expresso Polar (2004), um dos primeiros filmes feitos inteiramente com captura de movimentos – motion capture. Como em qualquer processo novo, o resultado é mesmo bastante irregular do ponto de vista técnico, ainda mais se comparado, por exemplo, ao método (evoluído, é claro) visto recentemente em Avatar (2009). Pois bem, fora essa particularidade estética, o longa é um clássico natalino no qual certo menino descrente na figura do Papai Noel embarca num trem bastante especial rumo ao Polo Norte, onde encontrará a magia do imponderável que o fará repensar seu ceticismo. Para ver de preferência na noite de Natal, O Expresso Polar divide opiniões. Então alusivo à data mais famosa de dezembro, o Confronto da semana conta com Robledo Milani atacando a realização de Zemeckis, enquanto Rodrigo de Oliveira se empenha para defender o filme estrelado por um Tom Hanks digitalizado. Confira.
A FAVOR :: “Um deleite para os que gostam das festas de final de ano” , por Rodrigo de Oliveira
O Expresso Polar é um daqueles filmes gostosos de assistir na época de natal. Tom Hanks encarna uma dezena de personagens – desde o pai, o filho, o maquinista e até Papai Noel – em um filme que testava os limites da animação com captura de movimentos. Este foi o primeiro exercício de Robert Zemeckis nesta tecnologia, o que justifica alguns problemas na qualidade da animação e nos olhos sempre opacos de seus personagens. Mas deixando isso de lado e se concentrando na história, ela é um deleite para os que gostam das festas de final de ano. Um menino que não acredita na mágica do natal é convidado para embarcar em uma viagem de trem ao lado de crianças de diversas partes do país. No caminho, o garoto faz novos amigos e começa a perceber o quanto é importante acreditar. Seja no Papai Noel, seja nele mesmo. Uma mensagem que atinge em cheio a criançada, que tem tudo para se divertir com as músicas e com o visual colorido de O Expresso Polar. Confiando na força do Papai Noel, Zemeckis deixa a aparição do bom velhinho para o final, emocionando crianças e adultos que ainda acreditam no espírito de Natal.
CONTRA :: “Pode se esperar tudo de um filme natalino, menos a ausência de emoção”, por Robledo Milani
É possível esperar quase tudo de um filme natalino – ainda mais se for uma animação – menos a ausência de emoção. E é justamente o que acontece nesta que é a primeira experiência no gênero de Robert Zemeckis, diretor vencedor do Oscar por Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994). Ao fazer uso de uma tecnologia ainda em desenvolvimento – motion capture, ou captura de movimento – o cineasta transformou esse conto de Natal em uma legítima cobaia, para ver o que funcionava e corrigir o que dava errado. E após mais duas investidas similares – A Lenda de Beowulf (2007) e Os Fantasmas de Scrooge (2009), todos com resultados bastante próximos – ele acabou se conformando com a ineficácia do estilo e retornando ao campo que dominava melhor, ao trabalhar com atores de carne e osso (O Voo, 2012). Em O Expresso Polar, no entanto, tem-se de tudo – malabarismos com a câmera, sequências musicais, cenários impressionantes – menos o que todos aguardavam: uma história humana, que envolvesse e comovesse. Os personagens são desprovidos de vida, com olhares opacos e gestos robóticos. E nem mesmo um astro com Tom Hanks, se desdobrando em vários, consegue injetar alguma alma neste projeto válido apenas pelas razões erradas.