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Alan Turing tem um grande peso histórico. Sua atuação no centro de inteligência britânica, especificamente no departamento responsável por decifrar códigos inimigos, foi imprescindível para encurtar a Segunda Guerra Mundial, poupando milhares de vidas. Outra de suas contribuições à humanidade foi a Máquina de Turing, precursora dos computadores digitais. Mesmo assim, o matemático passou mais de 50 anos no anonimato, primeiro em virtude do caráter secreto da missão que realizou junto ao governo, e segundo pelo complicado processo criminal que sofreu em 1952 por ser homossexual (algo ilegal no Reino Unido de então), e a posterior condenação a um tratamento hormonal que, provavelmente, o levou à morte (via suicídio motivado por depressão). O Jogo da Imitação (2014) mostra essa figura importante justo no momento da criação que ajudou a derrotar o nazismo. Concorrente à maioria dos prêmios da temporada, inclusive a alguns Oscars, o longa dirigido por Morten Tyldum agradou muitos e desagradou outros tantos. Para esquentar o debate, chamamos ao Confronto da semana os críticos Marcelo Müller e Matheus Bonez, respectivamente defensor e atacante. E você, o que achou da cinebiografia? Confira e não deixe de opinar.

 

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A FAVOR :: “Possui um acabamento refinado, que o credencia como obra para posteridade”, por Marcelo Müller
O Jogo da Imitação é parte do processo (necessário) de resgate histórico de Alan Turing, matemático inglês que teve atuação decisiva na vitória contra o nazismo e, de quebra, pela ideia daquilo que, por evolução, veio a ser o computador. Além da confidencialidade de seu trabalho, ele era homossexual, condição criminosa no Reino Unido da época, o que o marginalizou. No longa, vemos o Turing obsessivo e arrogante no trato com os colegas, e voltamos vez ou outra no tempo para acompanhá-lo na escola. Temos, no geral, um desenho interessante que evidencia a importância do personagem e sua tragédia. Caminham juntos o cada vez mais evidente êxito profissional e a iminente derrocada pessoal. O Jogo da Imitação tem aquele pedigree de filme britânico classudo, bem encenado e com ótimas interpretações. O grande trabalho de Benedict Cumberbatch dá vida aos anseios, às fragilidades e temores do protagonista, ajudado por um time de coadjuvantes que não deixa a peteca cair. Pode não ser uma obra-prima, mas escapa de armadilhas fáceis nas quais outras cinebiografias (vide A Teoria de Tudo, 2014) teimam em cair, mostrando, além de relevância temática, um acabamento refinado que o credencia como obra para posteridade.

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CONTRA :: “O maior ponto fraco é justo o (oscarizado) roteiro”, por Matheus Bonez
Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que O Jogo da Imitação não é um filme ruim. Porém, seu ponto fraco está justamente no quesito que lhe deu o único Oscar (das oito indicações), ou seja, o roteiro. Tudo está certinho lá: a vida do protagonista na infância e na adolescência, a genialidade do já adulto, membro principal do grupo que precisa desvendar os códigos alemães, e a homossexualidade revelada, ponto crítico para sua queda. Entretanto, esta junção de elementos parece não dialogar com frequência. A intenção era fazer um filme ambivalente, que tratasse tanto da luta de Alan Turing contra o nazismo quanto do seu lado pessoal, focado na sexualidade. Mas aí é que está: não há foco. Quando se chega ao clímax e sabemos o que aconteceu com ele no período de isolamento, parece que perdemos alguma parte da história. Como foi essa condenação? Como descobriram? Se o início parece lento demais para causar a aproximação de Turing com o espectador, tendo a guerra e a construção de um herói como pano de fundo, quando sua queda acontece, mais tarde, é como se o roteiro corresse para terminar o filme a tempo, assim, por exemplo, sua condenação acaba perdendo força. Pode ser um mero detalhe para muitos, mas é justamente este registro histórico que o filme pretende fazer. O Jogo da Imitação é falho justamente em aspectos que poderiam lhe dar outra dimensão e força.

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