Em cartaz, O Juiz (2014) é ancorado num drama familiar. Hank Palmer (Robert Downey Jr.), advogado de muito sucesso na metrópole, retorna à sua cidade natal para o velório da mãe, quando toma conhecimento que seu pai, o veterano juiz Joseph (Robert Duvall), é o principal suspeito do atropelamento que vitimou alguém fatalmente. O personagem de Downey Jr. decide, então, defender aquele de quem herdou a trilha profissional, o gosto pela lei, o pai com quem ainda vive às turras. O ambiente inquisitório do tribunal serve de cenário para que diferenças e expectativas venham à tona. Mas será que O Juiz consegue, de fato, ser um bom filme, ou não passa de algo que esquecemos com facilidade? Para debater sobre méritos e deméritos do longa de David Dobkin, chamamos ao Confronto da semana os críticos Thomas Boeira e Yuri Correa, respectivamente ataque e defesa. Confira e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “Equilibra seriedade e bom humor”, por Yuri Correa
O Juiz é um filme que constantemente tenta se sabotar. Entre diálogos expositivos e o melodrama forçado, porém, surge uma empatia natural vinda de seus protagonistas. Amparado pelo interesse na conflituosa relação, o espectador até minimiza a tempestade de desdobramentos catastróficos, inserida na trama apenas como pano de fundo para uma briga. Da mesma maneira, as performances de Duvall e Downey Jr. tornam possível ignorar a trilha intromissiva e ingênua de Thomas Newman, que parece querer transformar o longa em algo que não ele é. No geral, falta mão firme na condução ao diretor David Dobkin, ele que, por outro lado, parece um realizador competente quando, por exemplo, equilibra seriedade e bom humor na tocante cena da banheira, e também por jamais explicar a tela quebrada do celular de Hank (Downey Jr.), detalhe que muito antes de metáfora para o próprio personagem, é sinal de sua verdadeira natureza desinteressada pelas aparências, mais ligada ao que é eficiente e funcional, algo que seu intérprete, em um raro papel sóbrio, consegue estabelecer ao lado da humanidade do advogado.
CONTRA :: “Tão desinteressante que nem o grande elenco consegue salvá-lo”, por Thomas Boeira
O Juiz parece feito sob medida para agradar o público. O problema maior é não se arriscar muito, utilizando convenções que o espectador está cansado de ver. Com um roteiro fraco e uma direção sem imaginação, que aposta bastante no melodrama, o filme segue à risca o plot do “protagonista que volta para sua cidade natal e enfrenta os demônios do passado”, de maneira que em momento algum consegue surpreender ou envolver a plateia. Aliás, é possível prever boa parte do que acontece na trama, antes mesmo da primeira hora de projeção, algo grave, considerando que o filme tem mais de duas horas. Como se isso não bastasse, ainda vemos subtramas e personagens que apenas tornam a história desnecessariamente inchada. Dessa forma, O Juiz acaba tão desinteressante que nem o grande elenco consegue salvá-lo, nem o carisma de Robert Downey Jr. ou a autoridade do veterano Robert Duvall. No fim, esta é uma obra que pensa ser grande coisa, pretensão que apenas contribui para torná-la decepcionante.