Um dos filmes mais surpreendentes da última temporada de premiações foi a comédia dramática O Lado Bom da Vida, de David O. Russell. Chegando de mansinho, sem grandes alardes, acabou conquistando a preferência do público (mais de US$ 220 milhões faturados em todo o mundo) e da crítica (foi um dos grandes vencedores do Critics Choice Awards, do Independent Spirit Awards, do National Board of Review e de outras tantas associações de críticos por todos os Estados Unidos. Indicado em 8 categorias – foi um dos campeões desse ano – levou, no entanto, apenas uma estatueta, a de Melhor Atriz (Jennifer Lawrence). Mesmo assim, esta história baseada no livro de Matthew Quick tem seus detratores, que o acusam de exagerar em alguns clichês, em soluções que diferem bastante do romance literário e em algumas facilidades adotadas pelo realizador em nome da trama ser mais acessível. E é por isso que promovemos esse Confronto, com duas visões opostas sobre o mesmo filme. Confira as duas abaixo e faça o seu próprio julgamento!
A FAVOR: “Estudo da superação do ser humano”, por Matheus Bonez
O Lado Bom da Vida tem um título de livro de auto-ajuda e, talvez, a própria sinopse do filme colabore com esta ideia. Poderia ser apenas mais uma comédia romântica sobre duas pessoas que não se gostam de cara, mas que são obrigadas a se unir pelas circunstâncias até o fatídico final. Num resumo superficial, a história é isto. Porém, à medida que vamos conhecendo seus personagens e suas motivações, destrinchando suas personalidades complexas (especialmente Pat e Tiffany, os protagonistas), percebe-se que há aqui mais um estudo da superação do ser humano sobre si mesmo do que um reles conto de amor. E mesmo esta paixão que surge serve como um confronto para testar os limites do par principal, questionando até que ponto a bipolaridade pode deixar alguém fora da realidade e sem poder conviver com o outro em harmonia. Pode soar piegas, mas qual história de amor não o é? O filme de David O. Russell não é perfeito em todos os sentidos, mas é na simplicidade e na leveza que tem sua maior força. Aliada, é claro, a um elenco excepcional, encabeçado pelas brilhantes interpretações de Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. Emociona, no mínimo.
CONTRA: “Mais um feel good movie redondo e sem sal”, por Renato Cabral
É infame se aproveitar dessa forma do título, mas O Lado Bom da Vida parece ser um lado chato e previsível. E assistir a um filme assim pode ser seguro, mas não recompensador. David O. Russell constrói uma história que, apesar de ótimas performances, associadas à versatilidade do diretor, termina por soar presunçosa e sem novidades. O romance cômico em meio ao caos de duas pessoas mentalmente instáveis nos é apresentado entre momentos de autoajuda e redescoberta. O cinema é sentimento e é pulsante, mas nem por isso precisamos levar a ação a um nível piegas, com direito a, perto do final, um personagem correr em busca da pessoa que se descobriu apaixonada. Outro detalhe é que Russell opta pelo drama e pela comédia romântica, parecendo tão bipolar quanto os personagens de sua produção. O Lado Bom da Vida tem um elenco em perfeita sintonia, com um Robert De Niro que merecia mais cenas, um Bradley Cooper que surpreende e uma simpática e dedicada Jennifer Lawrence. Só não precisavam exagerar lhe dando um Oscar. Convencional, é apenas mais um feel good movie redondo e sem sal.