Finalizado em 2012, o drama O Lugar Onde Tudo Termina aguardou quase um ano até chegar aos cinemas, principalmente devido à agenda ocupada dos seus protagonistas: Ryan Gosling estava envolvido no problemático Caça aos Gângsteres (2013) e no ainda inédito Only God Forgives (2013), exibido pela primeira vez no último Festival de Cannes, enquanto que Bradley Cooper se dividia entre sua indicação ao Oscar por O Lado Bom da Vida (2012) e a conclusão da trilogia Se Beber Não Case! Parte III (2013). Pois o mais recente trabalho do diretor e roteirista Derek Cianfrance – aclamado por seu longa anterior, Namorados para Sempre (2010) – ficou perdido no meio deste tiro cruzado, e acabou sendo subestimado pela grande maioria. Ainda assim, está longe de ser considerado um fracasso: com um custo de meros US$ 15 milhões, arrecadou mais do que o dobro desse valor nas bilheterias de todo o mundo, além de ter recebido uma aprovação de 81% no Rotten Tomatoes, a maior compilação de resenhas críticas dos Estados Unidos. Por essa recepção morna, ainda que dono de méritos indiscutíveis, é que O Lugar Onde Tudo Termina foi escolhido como tema do Confronto dessa semana, com Marcelo Müller atacando e Conrado Heoli na defesa. Confira!
A FAVOR: “Um verdadeiro autor do cinema norte-americano contemporâneo”, por Conrado Heoli
Quando o cineasta Derek Cianfrance e o ator Ryan Gosling se uniram pela primeira vez, o resultado foi o espetacular Namorados Para Sempre, delicado drama sobre as vertentes mais cruéis do amor. Do reencontro da incensada dupla nasceu este O Lugar Onde Tudo Termina, obra naturalista centrada nos dilemas e escolhas dos pais como reflexo na formação do caráter de seus filhos. A obra felizmente não se limita à maestria de Gosling e Cianfrance; seu roteiro escrito à seis mãos remete aos clássicos dramas familiares de Visconti, como Rocco e Seus Irmãos (1960), e a produção ainda apresenta performances louváveis de Bradley Cooper, Ray Liotta, Bruce Greenwood e da belíssima Eva Mendes. Nota para a trilha imponente de Mike Patton, vocalista da extinta Faith No More, que elegeu a opressiva composição de Bon Iver – The Wolves (Act I and II) – para acompanhar os créditos finais do filme. Uma realização que divide seus três atos num crescendo tão impressionante quanto denso para apresentar o verdadeiro peso de um legado, os pecados dos pais e a inquietação nas almas de seus filhos. Derek Cianfrance, mais uma vez exitoso, traça seu caminho cinematográfico como um verdadeiro autor do cinema norte-americano contemporâneo.
CONTRA: “Direção equivocada potencializa as inconsistências do roteiro”, por Marcelo Müller
O Lugar Onde Tudo Termina é decepção, das grandes. Após a aclamação obtida por conta de seu ótimo longa anterior, Namorados Para Sempre, Derek Cianfrance desenvolve seu filme seguinte em três atos complementares. Até inicia bem, com o personagem marginalizado que vai às últimas consequências para sustentar o filho. Começa a degringolar quando certo evento muda o protagonismo para o policial tido como herói, e piora bastante ao centralizar – num grande e mal trabalhado clichê – dois adolescentes envolvidos com entorpecentes. A direção equivocada só potencializa as inconsistências de um roteiro que aposta todas as fichas na tese da herança paterna inalienável. Ryan Gosling está perigosamente atuando como em Drive (2011), com um mínimo de expressão, e com isso correndo o sério risco de ficar estigmatizado. Já Bradley Cooper faz o que pode dentro de suas limitações. Em suma, O Lugar Onde Tudo Termina é um filme para esquecer. Melhor rever Namorados para Sempre, em que a valiosa economia diretiva de Cianfrance contrapõe duramente o exibicionismo desajeitado desta nova empreitada.