Pedro Almodóvar é, provavelmente, o mais conhecido e premiado cineasta da Espanha atual. Nem sempre muito bem criticado no seu país de origem, costuma ser recebido de braços abertos ao redor do mundo, seja nos Estados Unidos – onde já ganhou dois Oscars – ou no Brasil – onde cada novo trabalho assinado por ele é aguardado com bastante expectativa. Seu mais recente filme, Os Amantes Passageiros, no entanto, tem provocado reações diversas: se por um lado é um dos seus longas de melhor resultado nas bilheterias, por outro há os que o acusam de estar acomodado numa comédia ligeira, ao contrário dos dramas profundos que há mais de uma década vinham marcando a filmografia do realizador. E é justamente por isso que este título se encaixa perfeitamente na nossa proposta de Confronto, com Robledo Milani partindo para a defesa, enquanto Renato Cabral se arma no ataque, cada um com apenas 200 palavras à sua disposição. Confira!
A FAVOR: “Almodóvar sabe muito bem onde pousar sua história”, por Robledo Milani
Como muito bem apontado pelo crítico de cinema Chico Fireman, Os Amantes Passageiros possui “um forte discurso político sobre como se comportam as diferentes classes sociais”, tendo como reflexo principalmente a atual condição socioeconômica de uma Espanha em crise. Isso pode soar estranho àqueles que foram ao cinema se divertir despreocupadamente com estes três comissários de bordo afetadíssimos durante um problemático voo rumo ao México. Mas basta um olhar mais apurado para indicar essa volta às origens do mais internacional dos cineastas espanhóis: seus atores habituais, o deboche e a ousadia que já lhe é tradicional, e uma fina ironia escondida nos detalhes. Senão, vejamos: a grande massa adormecida (a classe executiva), os jovens ignorantes (o casal em lua de mel), a busca pelo prazer (a orgia desenfreada). Protagonistas afiados, muito bom humor e um enredo simples – mas nunca simplista – completam o quadro. Almodóvar pode não se apresentar com o requinte ou o refinamento dos últimos trabalhos, mas mostra mais uma vez ter total domínio da situação – e, a despeito de qualquer problema anunciado, sabe muito bem onde pousar sua história.
CONTRA: “Turbulento e nauseante, está longe de ser um passeio seguro”, por Renato Cabral
A célebre frase dita por Bette Davis em A Malvada (1950) sobre afivelar os cintos, pois teria pela frente uma noite turbulenta, poderia também abrir a nova comédia de Pedro Almodóvar, devido a diversos aspectos. O principal podemos dizer que é a consequência da turbulência: náuseas. Conhecido como um grande cineasta por suas realizações melodramáticas que retomam clássicos do cinema, Almodóvar também é um cineasta cíclico e retornar às suas próprias origens é algo comum e, por vezes, seguro em sua filmografia. Porém se existe algo que passa longe de Os Amantes Passageiros é a palavra segurança, turbulência certamente o define. Retornando às comédias depois de um hiato de dez anos no gênero, o cineasta espanhol se perde em um filme que, ao tentar abordar através de metáforas e um humor escrachado os problemas sociais, políticos e econômicos da Espanha atual, acaba soando mais exagerado que em sua fase já conhecidamente over de comédias dos anos 80 e 90. Existe uma falta de timing cômico na produção que ainda piora a cada cena, algumas piadas reverberam o pior e o mais baixo do humor norte-americano. Os Amantes Passageiros faz as atuais chanchadas brasileiras parecerem comédias de alto nível.