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Confronto :: Praia do Futuro

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Antes que se reduza Praia do Futuro (2014) à polêmica ocasionada pelas cenas de sexo entre os personagens de Wagner Moura e Clemens Schick, à controvérsia surgida como reflexo da nossa sociedade ainda bastante aferrada a preconceitos e outras formas de estupidez, vamos pensar no mais recente filme de Karin Aïnouz enquanto cinema. A trama, que mostra primeiro o envolvimento do salva-vidas com um de seus salvados e depois o reencontro dos irmãos na cinzenta Berlim, tem colhido elogios por onde passa. Mas, claro, toda unanimidade é burra, como diria Nelson Rodrigues, portanto sempre é bom ouvir vozes dissonantes, atentar aos olhares diversos.

E para este Confronto sobre Praia do Futuro temos novidade: a participação de um colega que não integra nossa equipe. Heitor Augusto, crítico e pesquisador, aceitou o convite para oferecer um contraponto à defesa de Robledo Milani. Confira e não deixe de opinar.

 

A FAVOR :: “É preciso muita coragem para ser tão sincero com tamanha profundidade”, por Robledo Milani
Exibido na competição oficial do Festival de Berlim, o mais recente trabalho do diretor Karim Aïnouz acabou eclipsado pelo delicado Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro, que concorria em uma mostra paralela do mesmo festival. E isso aconteceu porque, além dos dois abordarem, cada um à sua maneira, a temática homossexual, enquanto o primeiro saiu de mãos abanando, o segundo foi premiado pela crítica e levou ainda o Teddy Award, dedicado a obras de conteúdo LGBT. Agora, três meses depois da passagem pela capital alemã, o longa protagonizado por Wagner Moura tem gerado polêmica pelo descontentamento causado em alguns espectadores que se assustam ao ver o “Capitão Nascimento” na cama com outro homem. Revoltados, alguns decidem abandonar a sala de cinema antes do término da sessão. Nem um extremo, nem outro. É um filme gay, sim, mas não frívolo ou panfletista; é muito mais maduro e contemporâneo em suas relações modernas entre amantes e irmãos do que se poderia suspeitar a princípio. E mais do que isso, é um filme de e para homens, com suas fraquezas, sensibilidades, afetos e carências. E é preciso muita coragem para ser tão sincero com tamanha profundidade.

 

CONTRA :: Tudo nesse filme surge à força”, por Heitor Augusto
O que não há em Praia do Futuro, comparado com os filmes bons do diretor, é o peso: dos personagens, das cenas, dos silêncios. Um filme que nunca está sobre o chão, vai de um lado para o outro como um fluido gasoso que não deixa marcas. Num filme que trabalha longe de um sentido tradicional de progressão narrativa, é fundamental que haja força e peso para que a sequência somada dos eventos seja robusta. Sem isso, está fadado a letargia. Existem as tentativas de dar ao filme um peso: as elipses aparecem para tentar estabelecer que há algo não dito naquele lugar e naquelas relações. Há um silêncio, mas não o silêncio de cinema: personagens quietos andando a esmo e olhando a esmo, tendo suas ações/falas interrompidas pelo corte seco, ou planos do horizonte enquadrando os cataventos, não fazem um silêncio de cinema. Tudo nesse filme surge à força: elipses para avisar que existe um buraco; personagens que escapam do quadro e não são reenquadrados para indicar que escapam do padrão e/ou escapam de um lugar que sufoca. Praia do Futuro nunca consegue ser um filme que apenas é, mas que enuncia o tempo inteiro, tão deslocadamente quanto um filme de Bianchi, para o qual costumamos apontar o engessamento da encenação – questão que aprofundei na minha crítica para a Interlúdio.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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