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Confronto :: Real Beleza

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A busca pelo belo, o cultivo dos afetos e a força do desejo são ingredientes basilares da mais recente realização de Jorge Furtado. Real Beleza (2015) destoa dos filmes anteriores do diretor gaúcho, pois desprovido da recorrente veia cômica e das doses ocasionais de crítica social. Na trama, um fotógrafo que peregrina pelo interior do Rio Grande do Sul procurando novas modelos acaba se envolvendo com a mãe comprometida de uma das meninas. Vladimir Brichta e Adriana Esteves, casados na vida real, interpretam essa dupla que precisa enfrentar os desígnios do próprio querer. Francisco Cuoco vive o marido cego, resistente quanto ao possível futuro da filha na cidade grande. Em virtude da recepção controversa que o filme vem tendo, com uns gostando e outros achando meio errática essa curva no cinema de Jorge Furtado, chamamos ao Confronto da semana os críticos Leonardo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira, respectivamente atacante e defensor de Real Beleza. Confira e não deixe de opinar.

 

A FAVOR :: Maduro e com diálogos inteligentes”, por Rodrigo de Oliveira
Apenas o fato de Jorge Furtado ter saído de sua zona de conforto, arriscando um drama romântico no lugar de suas (inteligentes) comédias, já justificaria a existência de Real Beleza. No entanto, o cineasta não quis só deixar de lado um gênero que o fez famoso. Com elenco afiado e interessantes personagens cheios de dúvidas e desejos, Furtado constrói um longa-metragem que conversa muito bem com o cinema europeu. A ação não é o mais importante. A interação entre as pessoas, sim. Lembrando em parte As Pontes de Madison (1995), mas investindo na discussão do conceito de beleza, o cineasta gaúcho articula seu quarteto de personagens numa procura por algo que, às vezes, soa inalcançável. Vladimir Brichta e Adriana Esteves, casados na vida real, têm óbvia química e as cenas que dividem são o destaque do filme. Isso até Francisco Cuoco dar as caras como um senhor já no fim da vida, mas que não perde o contato com a beleza dos livros, da boa música e da fotografia, mesmo que sua condição não o permita desfrutar completamente destas maravilhas. Maduro e com diálogos inteligentes, Real Beleza é uma bela porta de entrada no gênero dramático para Jorge Furtado. 

CONTRA :: Trama conduzida num tom monocórdico e sem surpresas”, por Leonardo Ribeiro
É sempre interessante quando diretores renomados resolvem fugir de sua zona de conforto e se arriscar por novos terrenos. É o caso de Jorge Furtado, conhecido por suas comédias de visual moderno, que flertam com a linguagem pop, e que aqui toma um caminho dramático e intimista. Mas, infelizmente, Furtado parece considerar que a mudança de gênero já é risco suficiente, conduzindo sua trama num tom monocórdico e sem surpresas. Não há dúvidas sobre o apuro técnico do diretor, que concebe belos planos nas paisagens do interior gaúcho, nem sobre o texto sofisticado, as boas atuações ou as reflexões interessantes sobre a banalização da beleza. O que se pode sentir é a insegurança do cineasta, que não insere vigor em sua história, apresentando conflitos com potencial, mas tratados de forma sempre amena. É difícil haver perigo quando uma das pontas do triângulo amoroso é um senhor cego e fragilizado, por exemplo. E situações promissoras, como a possibilidade do envolvimento da garota com o fotógrafo, ou a figura misteriosa do jovem que trabalha na fazenda, ficam apenas no terreno das insinuações. A tentativa de mudança é válida, porém um pouco mais de ousadia fará bem aos trabalhos futuros de Furtado.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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