O mais recente filme de Woody Allen tem um elenco de peso encabeçado por Kate Winslet. Conta com uma fotografia sublime do premiado Vittorio Storaro, que contrasta as cores quentes (especialmente o amarelo e o vermelho) com a atmosfera nublada, exatamente como o clima de praia do longa pede. Então, o que havia para dar errado? Roda Gigante tem suas qualidades, inclusive um início bem interessante. Porém, à medida que a história avança, o diretor e roteirista parece enxergar suas personagens femininas apenas como reagentes às ações dos homens do roteiro. Winslet se esforça para dar um ar de dignidade à sua personagem, tão neurótica quanto o próprio Allen, em mais um caso de seu alter ego dominar a produção. Só que, no resumo, ela apenas age de acordo com o que seu marido ou amante lhe fazem. O que fica é o retrato de uma mulher que enlouquece não apenas por viver uma vida medíocre, mas porque não aguenta mais ter um esposo violento em casa ou um namorado que lhe mente o tempo inteiro. Nada contra finais pessimistas, mas o feud trágico entre mulher de meia-idade e a ninfeta que “rouba” os homens ao seu redor soa clichê, ainda mais na filmografia do diretor, que parece querer sempre bater nessa tecla. A história poderia ser encarada como uma crítica ao próprio machismo, tão em voga no cinema atual, ainda mais com as denuncias de escândalos que tem aflorado como os casos de Harvey Weinstein e Kevin Spacey. Porém, assim como o título sugere, o roteiro anda em círculos, para terminar exatamente como começou. O que acaba sendo mais interessante é o filho da protagonista, que ateia fogo em tudo que vê. Mas nem ele salva o filme do marasmo que se estabelece. Talvez como a própria vida de Ginny.
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