Sim, Sob a Pele (2013) é o filme em que Scarlett Johansson aparece completamente nua. Muitos nem assistirão esta ficção científica dirigida por Jonathan Glazer, na qual Johansson interpreta uma alienígena que vem à Terra em busca de presas humanas, entretanto quase todos sabem (via marketing) da peculiaridade da nudez da atriz que há tempos povoa o imaginário geral, não apenas pelo talento, mas também por seus atributos físicos. Bem ou mal, parece que a curiosidade tem ajudado o filme nas bilheterias, ainda que, de qualquer maneira, ele não tenha um perfil estritamente comercial. Quem viu, geralmente, ou gostou ou desgostou por completo, as opiniões têm se mostrado bem polarizadas. Uns evocam a qualidade da narrativa enquanto outros denunciam uma chatice travestida de trama existencial.
E no Papo de Cinema não foi diferente. Nossa equipe também ficou dividida. Neste Confronto, Robledo Milani representa a ala do “este filme é um engodo”, enquanto Rodrigo de Oliveira lidera a facção do “é um filmaço”. E você, o que achou? Confira e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “É a boa surpresa do ano”, por Rodrigo de Oliveira
Sob a Pele não é o suspense/ficção científica que vemos todos os dias nos cinemas. É algo mais. O longa-metragem dirigido por Jonathan Glazer deixa para o espectador a responsabilidade de construir o filme em sua cabeça enquanto a trama se desenrola. As ações dos personagens não são explicadas de forma mastigada para a audiência, ela que precisa pegar as peças disponibilizadas e montá-las. Scarlett Johansson hipnotiza como o canto da sereia os incautos humanos que passam em sua frente e, em um momento vital, começa a vislumbrar uma espécie de humanidade insuspeita. Mas o que teria feito isso a ela? Podemos especular que se trata da descoberta da inocência de um homem atraído em sua teia. Não diferente da viúva negra (a aranha, não o personagem da Marvel), a mulher fatal vivida por Johansson não apresentava remorsos, até ser colocada frente a frente com uma nova condição. Com poucos diálogos e uma trilha sonora ótima e estranhosa, Sob a Pele é a boa surpresa do ano. Talvez seja mais filme de festival do que produção para multiplex, mas quem estiver disposto a embarcar na viagem tem tudo para sair dela ruminando a respeito de tudo o que viu.
CONTRA: “Está longe de merecer respeito por qualquer espectador com um mínimo de inteligência”, por Robledo Milani
Ao contrário do oscarizado Ela (2013), em que conquistou o protagonista apenas com sua voz, em Sob a Pele a atriz Scarlett Johansson investe quase que exclusivamente numa performance física, falando pouco e, na maioria das vezes, permitindo que o silêncio tome conta da tela. Se por um lado isso oferece um justo destaque à perturbadora trilha sonora do estreante Mica Levi, por outro deixa em evidência as carências da protagonista, uma intérprete mais acostumada a fazer uso de sua presença sem muito esforço. No papel de uma alienígena devoradora de homens, ela realiza a fantasia de grande parte do contingente masculino da plateia. Só que ao invés de radicalizar essa opção em busca de um resultado surpreendente, o roteiro escrito a partir do romance de Michel Faber abre espaço para um sentimentalismo óbvio e clichê. O diretor Jonathan Glazer parece tão encantado pelas curvas de Johansson que esquece de guiá-la por uma jornada transformadora que soe minimamente compreensível. E ao apelar para o grotesco, termina por afastar até aqueles os mais insistentes. Sob a Pele pode ter seu lugar garantido entre masturbadores ingênuos sedentos por vislumbres patéticos de uma nudez gratuita, mas está longe de merecer respeito por qualquer espectador com um mínimo de inteligência e perspicácia.
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