Tem gente que faz cara de prisão de ventre até hoje quando toca My Heart Will Go On, música interpretada por Céline Dion. A execução incessante da canção-tema que embalou o amor de Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose (Kate Winslet) foi apenas um dos reflexos do sucesso estrondoso de Titanic (1997). Em 195 minutos, acompanhamos o sentimento repentino surgido entre o pé-rapado que entrou de gaiato no navio mais famoso da história e a burguesa cansada das convenções e dos desmandos da mãe dominadora. A progressão dramática remete ao melodrama, os personagens possuem traços bastante identificáveis, o amor é celebrado como única salvação, seja lá de que mal for, resistindo até à morte na forma de lembrança. James Cameron criou um filme-evento, não apenas pelo gigantismo da produção em si, mas pela projeção alcançada, o êxito. Todo mundo (ou quase) já assistiu ao filme, fato também que acentua a divergência de opiniões. Para ver se a gente consegue desvirar o navio e vencer o iceberg, chamamos Matheus Bonez, da turma dos que gostariam de empurrar o casal protagonista à água já na famosa cena do proa, e Thomas Boeira, dos que certamente torceram para que o gelo derretesse antes do tempo, até contra os ditames da história. Confira e opine você também.
A FAVOR :: “Uma obra grandiosa, emocionante e inesquecível”, por Thomas Boeira
James Cameron é um diretor que insere clichês em seus filmes e consegue fazê-los funcionar dentro da narrativa. É algo recorrente em sua filmografia. Em Titanic, vemos um romance entre figuras de classes sociais opostas, que precisam enfrentar vários obstáculos (entre eles o vilão inescrupuloso vivido por Billy Zane) para ficarem juntos e viverem seu amor. Mas, por mais clichê que isso seja, Cameron consegue trazer peso dramático para a história e tornar Jack Dawson e Rose DeWitt Bukater personagens interessantes, sendo que eles ainda são interpretados com carisma e sensibilidade por DiCaprio e Winslet, que desenvolvem uma belíssima química em cena. E se nos envolvemos com eles já na primeira metade da história, nos importamos ainda mais na etapa final, quando temos a impressionante sequência do naufrágio, brilhantemente conduzida pelo diretor. Sem falar que, tecnicamente, o filme é um primor, desde os efeitos visuais até o design de produção, e o fato de isso ajudar a tornar a narrativa de Cameron envolvente justifica os 200 milhões de dólares gastos na produção (orçamento que, na época, fez o filme ser o mais caro de todos os tempos). Todas essas coisas contribuem muito a fazer de Titanic uma obra grandiosa, emocionante e inesquecível.
CONTRA :: “A história em si não é ruim, mas sua condução é repleta de clichês“, por Matheus Bonez
Titanic pode ter vencido onze Oscars, ser a segunda maior bilheteria da história e ter emplacado a carreira dos astros Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Tem uma técnica impecável, efeitos incríveis. Por outro lado, é um filme chato. Boring mesmo. O que justifica sua extensa duração de mais de três horas além da megalomania do diretor James Cameron? A história em si não é ruim, mas sua condução é repleta de clichês da “luta” entre classes espelhada na história de amor de Jack e Rose que, por sinal, nem é tão apaixonante assim. Justamente por apostar nas maiores obviedades possíveis. Era necessário que o pretendente rico da protagonista, Cal (Billy Zane), fosse um mau caráter de primeira? Só se for para reforçar o quanto Jack não tinha tantas qualidades notáveis para chamar a atenção de Rose. Aliás, a própria é uma personagem sem sal, e sua intérprete nem entrega uma atuação memorável. Afinal, vai fazer o quê com uma figura tão vazia? Tivesse ido para a sala de edição com corte de uma hora, Titanic poderia ser um filme tragável. Do jeito que ficou, dá sono. Mesmo que a última hora, quando a tragédia se instala, seja o melhor que tem a oferecer. Mas aí, para os (poucos) que não engoliram a história, já é tarde demais.