David O. Russell vem firmando carreira de prestígio em Hollywood, sobretudo se levarmos em conta a frequência com que seus filmes figuraram nos últimos anos entre os indicados às várias categorias do Oscar. Trapaça (2013) é o mais recente exemplo desse apreço que a Academia tem pelo trabalho do diretor, afinal concorre a 10 estatuetas na festa do dia 02 de Março. Quem sabe, o grande destaque do filme seja o elenco repleto de boas performances. É claro, atores talentosos representam meio caminho andado, mas quando o conjunto soa coeso, provavelmente há forte influência da direção nos processos de construção e desenvolvimento de personagens. Na trama, dois vigaristas são obrigados a colaborar com um agente do FBI para reduzir suas penas. A ambientação alude aos anos 1970, o que é reforçado pela ótima trilha sonora. Numa narrativa onde mentira e verdade se confundem a todo o momento, sobram elementos interessantes para alguns e forçosamente estilosos para outros. Para debater a respeito do longa que chega sexta-feira aos cinemas brasileiros, chamamos Dimas Tadeu e Robledo Milani, respectivamente defensor e algoz de Trapaça. Confira.
A FAVOR:: “Uma grande e primorosa plataforma para atuações” , por Dimas Tadeu
David O. Russell vem se destacando, cada vez mais, como um diretor de atores. Não é por acaso que, pela segunda vez consecutiva, um filme seu, no caso Trapaça, consegue o raro feito de abocanhar indicações para as quatro categorias de atuação do Oscar: ator e atriz e ator e atriz coadjuvantes. E o filme é exatamente isso: uma grande e primorosa plataforma para atuações. O longa até pode se gabar de ter influências bem assimiladas de Scorsese e Paul Thomas Anderson, mas o que Trapaça mais parece é uma grande peça de teatro, onde os atores têm espaço para brilhar mais do que qualquer recurso cinematográfico, fazendo a história fluir em diálogos nervosos, dinâmicos e inspirados. Nesse sentido, design de produção, figurinos e cabelo e maquiagem dão um show de exagero que cai bem e teatraliza ainda mais a trama na tela. Se o estilo agrada cinéfilos, especialmente aqueles mais interessados no exercício da linguagem do cinema, já é outra história. Mas é impossível ignorar o brilhantismo de Trapaça em fazer brilhar seus personagens/atores de uma forma que faz lembrar a tão cultuada Old Hollywood.
CONTRA :: “Os exageros são tantos que servem apenas para entreter, ao invés de narrar algo de fato envolvente”, por Robledo Milani
A verdadeira vítima desta Trapaça é o espectador, que acaba envolvido por uma profusão de adereços e se distraindo do principal: a história. E isso o mais recente filme de David O. Russell simplesmente não possui, sem resistir a uma análise mais profunda. Senão, vejamos: a história é absurdamente simples (dois golpistas são pegos em flagrante por um agente do FBI e obrigados a colaborar na caça de políticos corruptos), o elenco, em sua maioria, está equivocado (Jeremy Renner, com 40 anos, defende sua comunidade há 30? E o que dizer de Jennifer Lawrence, com pouco mais de 20, interpretando a esposa traída, desprezada e mãe de uma criança de quase 10?) e os exageros são tantos (Bradley Cooper de permanente? Barriga abundante e peruca em Christian Bale… por quê?) que servem apenas para entreter, ao invés de narrar algo de fato envolvente e profundo. Scorsese – um cineasta superior à Russell – tangenciou temáticas semelhantes várias vezes em sua carreira, sempre com resultados superiores. E, felizmente, nesse ano ele repetiu esse feito outra vez. Trapaça se esforça para ser, em última instância, tudo o que O Lobo de Wall Street é naturalmente: um grande e memorável filme.