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Oriundo do teatro, o cineasta inglês Stephen Daldry concorreu com quase todos os seus longas-metragens anteriores ao Oscar de Melhor Filme. Independentemente dessa curiosidade, alguns torcem o nariz para ele, acusando-o de “pesar a mão”, de ser pouco sutil, sobretudo no trato com as emoções. Billy Elliot (2000), As Horas (2002), O Leitor (2008) e Tão Forte e Tão Perto (2011) estão aí para que cada um tire suas próprias conclusões, assim como agora Trash: A Esperança Vem do Lixo, o mais recente dos filmes de Daldry, em cartaz. Filmado quase todo no Brasil, esse drama/suspense parte da confusão na qual se envolvem três adolescentes que encontram uma carteira cheia de dinheiro no lixão onde diariamente buscam sustento. Com elenco recheado de nomes nacional e internacionalmente conhecidos, tais como Wagner Moura, Selton Mello, Rooney Mara, Martin Sheen, Trash: A Esperança Vem do Lixo, assim como seus “irmãos”, está longe de ser unanimidade. Portanto, para debater sobre ele, chamamos ao Confronto da semana os críticos Renato Cabral e Yuri Correa, respectivamente ataque e defesa. Confira e não deixe de opinar.

 

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A FAVOR :: “Um western spaghetti urbano”, por Yuri Correa
O novo filme do habitualmente competente Stephen Daldry – e que se coloque também na conta de seus bons trabalhos o injustamente detestado Tão Forte e Tão Perto (2011) – poderia muito bem ser uma releitura moderna, sutil e ambientada no Brasil do clássico de Sergio Leone, Três Homens em Conflito (1966), pois também conta, afinal, a busca de um tesouro escondido num cemitério. Como nas cidadezinhas dos filmes do cineasta italiano, o Rio de Janeiro torna-se um lugar sem lei, onde os próprios representantes desta fazem parte dos pistoleiros desalmados que abrem fogo onde estiverem. O sacerdote local tenta ajudar, enquanto a donzela intervém do seu próprio modo. De fato, Trash: A Esperança Vem do Lixo é um western spaghetti urbano que, embora com mais sutileza, constrói a mesma aura de fábula típica do gênero através de arquétipos e elementos de cena: é o esconderijo de um dos meninos que possui inclusive um fliperama, é o mau xerife impassível e a caótica vila dos catadores de lixo. Não é o melhor filme de Daldry, mas nem de longe é ruim. Se visto com olhos que buscam menos a plausibilidade do roteiro do que sua intenção de contar uma aventura da periferia, fica ainda melhor.

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CONTRA :: “Trama previsível e escolhas narrativas que empobrecem a produção”, por Renato Cabral
Não é surpresa alguma encontrar Stephen Daldry na direção de Trash: A Esperança Vem do Lixo, afinal a produção é baseada num best-seller, e adaptações dessa natureza são costumeiras no cinema do diretor. Como Truffaut e Spielberg, Daldry também está habituado a elencos jovens, já que a infância é um de seus temas recorrentes. Logo, o diretor, digamos, se encontra aqui em terreno seguro para desenvolver um trabalho de qualidade, o que infelizmente não acontece. Mesmo que se saia muitíssimo bem ao adaptar o material à cultura brasileira, não escapa de tornar a trama previsível, fato que, somado a algumas escolhas narrativas que empobrecem a produção, faz de Trash: A Esperança Vem do Lixo um filme perdido entre Quem Quer Ser Um Milionário (2008), Cidade de Deus (2002) e Os Goonies (1985). As cenas no lixão e nos esgotos trazem algumas das sensações mais incomodas, por conta da gravação em vídeo e de atuações não muito convincentes, isso sem contar no roteiro esburacado de Richard Curtis (Simplesmente Amor, 2003). Daldry parece perder o controle, se afastando bruscamente da qualidade de algumas de suas produções anteriores.

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