20180405 um lugar silencioso papo de cinema 4

Filmes de horror sofrem muito preconceito. As pessoas acham o gênero popular demais, não acreditando que uma obra refinada e inteligente possa sair dos seus moldes – e quando são desmentidas, apontam os Corra! (2017) da vida como exceções. Aqui, John Krasinski vem pra “patrolar” esses estereótipos, ao explorar as potencialidades de um dos conceitos mais esnobados e básicos da linguagem audiovisual: o silêncio. Aliás, já é surpreendente que Krasinski seja autor dessa pérola, pois nunca demonstrou antes a aptidão e a segurança que exerce nessa tensa e agoniante narrativa. O silêncio exigido pelo plot é explorado com sabedoria, não se trata apenas de um volume baixo e de poucos efeitos sonoros, mas de construção ambiental. O ruído de passos sobre a folhagem na beira de um rio é nada, já que o som da água corrente deixa o espectador menos tenso, enquanto os sons minúsculos do toque de mãos ou da pele roçando nos objetos dentro de casa parecem estrondosos aos ouvidos do espectador, temente de que qualquer movimento mais brusco ou acidente possa significar fatalidade aos personagens – e Krasinski é inteligente ao criar planos detalhe de todos os objetos que poderiam selar esse destino, aumentando a tensão. Além disso, existe uma química inegável entre seu personagem, a de Emily Blunt (sua esposa na vida real) e as crianças que, pela rebeldia ou pelo medo com que podemos nos identificar, conquistam facilmente a torcida do público. E tudo é redondinho, nada fica ao acaso e qualquer elemento apresentado é posto em prática para criar sustos, expectativa e, claro, mais tensão – isso com uma naturalidade invejável, já que a fotografia meio sépia e a trilha melancólica de Marco Beltrami remetem a um bucolismo que rompe com as expectativas do gênero, deixando que tudo soe fresco e atraente.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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