Uma família trancada em casa. Quando sai, é durante o dia, e no maior cuidado. Não chamar a atenção é essencial. Estamos numa realidade pós-apocalíptica, em que algo não identificado de imediato dizimou grande parte da população. Essa poderia ser a sinopse do ótimo – e pouco visto – Ao Cair da Noite (2017), mas serve também para o hypado Um Lugar Silencioso, lançado um ano depois e diante de uma forte crise de originalidade. O fim da humanidade se deu por uma invasão alienígena, e estes, cegos, se orientam pelo som. Só que os aliens não caçam o barulho – o som os incomoda, como logo fica claro, e o que desejam é acabar com o distúrbio. Bom, se essa perturbação é um problema para eles, fácil imaginar como derrotá-los, não? Ou mais alguém por aí faltou a aula em que exibiam a comédia debochada Marte Ataca! (1996), de Tim Burton? O diretor/ator/roteirista/produtor (esse acúmulo de funções nunca é um bom sinal) John Krasinski recicla velhas fórmulas, apostando na previsibilidade e na boa vontade do espectador em perdoar tantas inverossimilhanças, e ainda que invista no clima de terror que toma conta da trama, é impressionante como seus personagens são aparvalhados – os adultos não cuidam das crianças, a mãe pisa em pregos, o pai guarda rancores infundados. E as próprias regras estabelecidas no começo logo são ignoradas. Por que perder 90 minutos do nosso tempo, se um curta de não mais do que 15 daria conta do recado? Sem consistência no discurso, chega-se ao ponto de colocar em cena um parto – e como ter um totalmente silencioso? Bom, Krasinski acha que é possível. Seus admiradores tendem em concordar. Pena essa ser (mais) uma falácia que, obviamente, não consegue se sustentar diante de qualquer análise mais profunda.
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