Filme esquisito, para ser aceito, só se for independente. É um preconceito comum. E Ava DuVernay está nem aí para construir um arco bem definido. Ela está interessada nas atmosferas que representam Meg, numa narrativa focada nos momentos da jornada dessa menininha introspectiva, e não tanto na jornada em si. Ela lapida os sentimentos sem medo de se demorar em cenas como aquela em que vários personagens se equilibram sobre pedras. É inesperado que uma fantasia se detenha tanto tempo em sequências assim, e o espectador normalmente se aborrece quando um filme não é o que ele imagina. Ava obviamente tem planos diferentes do que se esperaria de um blockbuster da Disney. Ela sabe que se trata de um roteiro simples, mas não se intimida e se debruça em cada cena como se fosse o ápice do filme. Assim, todas elas são. Perceba como a trilha de Ramin Djawadi assume caminhos pouco usuais, conversando mais com as emoções de Meg do que tentando conduzir para um “tom”. É uma história muito pessoal, experimentada de dentro do peito da garota – e onde tá escrito que protagonistas precisam ser gente boa? Se é Breaking Bad e House of Cards, todo mundo adora o canalha, né? Mas põe uma criança mais fria e já vem gente abrir um berreiro. Então óbvio que as entidades chamadas Senhoras surgem em figurinos esquisitos, pois esse é o sentimento despertado por elas em Meg. Ava transmite isso muito bem, se concentra na atmosfera de cada cena de acordo com Meg – estranhamento, terror, amor, medo, suspeita. Porém, são os sentimentos de uma menininha negra classe média que curte física quântica, e talvez essa seja a parte que as pessoas considerem mais implausível – mas daí o problema não está no filme, né?