20180404 uma dobra no tempo papo de cinema 2

Uma Dobra no Tempo tem uma importância ímpar na indústria cinematográfica, já que se trata do primeiro filme dirigido por uma mulher negra com orçamento acima de 100 milhões de dólares. Reconhecido o peso desse fato, é preciso dizer que Ava DuVernay derrapou feio nessa empreitada. Habituada a um cinema pequeno, dramaticamente cuidadoso e politicamente potente, DuVernay não consegue imprimir qualquer energia a essa história de aventura protagonizada por crianças descobrindo mundos mágicos – que deveria, portanto, ser minimamente empolgante –, fazendo, pelo contrário, um filme que se arrasta. Surpreende negativamente também como a diretora falha em obter boas atuações de seu elenco, que frequentemente trafega entre o ridículo (Reese Witherspoon, Oprah Winfrey, Zach Galifianakis e Michael Peña), a apatia (Chris Pine, Gugu Mbatha-Raw e, o que é mais grave, a protagonista Storm Reid) e a absoluta chatice (o garoto Deric McCabe). Uma Dobra no Tempo ainda quer ser (ou se vender como) visualmente inventivo, obra de uma cineasta supostamente visionária, mas, na prática, raramente alcança esse objetivo (somente a sequência que leva ao reencontro da protagonista com determinado personagem pode realmente ser classificada dessa forma). O maior problema do filme, no entanto, está em como ele se alicerça sobre uma sequência de lições de moral rasas, expressas em várias frases motivacionais que parecem saídas de um livro de autoajuda qualquer. É com base nelas que a narrativa absurdamente ordinária e genérica de Uma Dobra no Tempo se estrutura, caminhando por lugares óbvios com a pompa de quem acredita estar revolucionando seu gênero.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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