É consenso, mesmo entre os que gostaram muito do projeto, que este filme não tem o melhor dos roteiros. Porém, ele não se resume ao fiapo de sua trama. É, afinal, sobre os mil planetas do título. Seu objeto mais interessante, de fato, é a enorme estação espacial que acumulou culturas intergalácticas de diversos tipos ao longo dos séculos. Construir a atmosfera de co-habitação e diversidade daquele local, em última análise, é a própria mensagem do filme. Enquanto Valerian e Laureline passam por vários ecossistemas e cenários daquela gigantesca estrutura, o espectador vai ganhando noção da dimensão e da pluralidade do lugar. Da caçada à água-viva telepática, passando por um inferninho alienígena até três extraterrestres trambiqueiros, os personagens e ambientes são construídos com atenção por Luc Besson, que tem toda a razão de não se importar muito com o ritmo da trama – ela não é o ponto, apesar de se beneficiar enormemente dessa riqueza com que é delineada. Afinal, mesmo que ralo, o roteiro fala justamente sobre integração, respeito mútuo e convivência pacífica. Ainda no auxílio dessa temática, o longa ganha um design de produção assustadoramente detalhado, que deve ter custado muitas noites em claro ao departamento de CGI. A coisa é: ao subir dos créditos, dá até pra esquecer acerca do que era, mesmo, o conflito principal do filme, não se lembrar de algum diálogo extraordinário ou estar pouco surpreso com um desfecho inusitado. Mas, certamente, é possível levar consigo a aventura, sentir que realmente visitou-se um lugar vivo, repleto de figuras reais e singulares. Se o longa pode ser acusado de algo, é de ser inocente e otimista. Mas, convenhamos, precisamos de inocência e otimismo atualmente.
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