Em cartaz, Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) mostra a ambição do jovem Andrew Neyman (Miles Teller) em se tornar o melhor baterista de sua geração. Como nem na arte bastam talento e vontade, o treinamento para alcançar o topo deve ser árduo. Tendo como instrutor o impiedoso Terence Fletcher (J.K. Simmons), ele vê seu sonho logo transformar-se em obsessão. Damien Chazelle, diretor que já havia abordado (enquanto roteirista) o lado sombrio dos bastidores musicais em Toque de Mestre (2013), vem colhendo elogios por esse filme no qual a pretensão desmedida do pupilo encontra a rigidez extrema (e por vezes torturante) do mestre. Mas, claro, não há unanimidade. Em virtude disso, para ampliar a discussão acerca dos méritos e deméritos de Whiplash: Em Busca da Perfeição, chamamos ao Confronto da semana os críticos Carlos Alberto Mattos, nosso convidado especial, e Rodrigo de Oliveira, prata da casa, respectivamente atacante e defensor do longa. Confira e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “Um dos grandes filmes desta temporada de prêmios”, por Rodrigo de Oliveira
Whiplash: Em Busca da Perfeição é muito menos sobre jazz e muito mais sobre uma obsessão. No longa, o personagem de Miles Teller busca de forma doentia a superação de seus limites. Primeiramente, para aplacar uma vontade própria, de realização pessoal. É seu objetivo ser um dos grandes da música, reconhecido como um baterista diferenciado. Depois, para conquistar o respeito de seu professor, o músico linha-dura interpretado por J.K. Simmons. Neste embate de personalidades, as faíscas voam para todos os lados. O diretor e roteirista Damien Chazelle
CONTRA :: “Consagrá-lo pela perícia na execução dos aspectos musicais e da montagem seria elevar a técnica acima da criatividade e da dignidade”, por Carlos Alberto Mattos
A música em Whiplash: Em Busca da Perfeição é vista como um dispositivo militaresco e capitalista: tanto melhor é a performance quanto mais for cumulativa, competitiva e meritocrática. Para que se chegue a um resultado satisfatório (a tal perfeição), não basta ter talento e perseverança. É preciso ser humilhado, quase espancado, sofrer na carne e sangrar no instrumento de trabalho. Daí que o filme se assemelhe àqueles contos de fundo protestante, em que o mestre torturador impinge ao discípulo os piores ultrajes em nome de uma aspiração maior. Pode ser um capitão sádico com os seus soldados ou um treinador impiedoso com seus treinandos. No caso desse filme, a postura autoritária do regente, suas reações coléricas, as ofensas homofóbicas e depreciativas estão muito distantes de qualquer ideia atualizada de pedagogia e mesmo respeito pelo ser humano. E não venham me dizer que se trata de uma relação sadomasoquista consentida entre maestro e baterista. O projeto de vingança de cada um desmente essa platitude. É inegável a perícia na execução dos aspectos musicais e da montagem, o que confere algum interesse ao filme. Mas consagrá-lo por isso seria o mesmo que faz Fletcher: elevar a técnica acima da criatividade e da dignidade.