O segundo grupo de seleções da Copa do Mundo 2014 tem fortes concorrentes. Já começa pela favorita Espanha, que ganhou o torneio de 2010 e pretende repetir o feito. Será que conquista o bicampeonato? Ao seu lado está, justamente, o time que derrotou na final de quatro anos atrás, a Holanda, que também não pretende ficar atrás. O azarão da vez é o Chile, que apesar de não ter um histórico de vitórias na disputa, em 2014 surge como um grande concorrente. Correndo por fora está a Austrália, que deve apenas marcar presença, mas pode surpreender. Com este grupo em mãos, os editores do Papo de Cinema resolveram eleger um filme de cada um dos países escolhidos. E agora, quais serão vencedores? Confira nossas apostas e boa torcida!
Fale Com Ela (Hable con Ella, 2002)
Em um grupo forte com adversários como Chile, Holanda e Austrália, o escolhido da Espanha para a primeira fase da Copa de Cinema só poderia ser um: Pedro Almodóvar. Nome referência da sétima arte do país europeu, o cineasta extrapolou as linhas do seu território, fazendo sucesso ao redor do mundo com seus filmes extravagantes, coloridos, com personagens femininas fortes e nos quais as temáticas do desejo e do sexo invariavelmente estão presentes. A produção escolhida para defender o escrete espanhol é um dos longas-metragens mais elogiados da carreira de Almodóvar: Fale com Ela. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original, e indicado na categoria Melhor Diretor, conta com uma atuação inesquecível de Javier Cámara como um enfermeiro obcecado por uma paciente em coma. O que é amor? O que é desejo? O que é doença? Perguntas colocadas em pauta por este forte script assinado por Almodóvar. Um soco no estômago que deve nocautear a zaga adversária. – por Rodrigo de Oliveira
A Excêntrica Família de Antônia (Antonia, 1995)
O “carrossel holandês” do cinema é A Excêntrica Família de Antônia, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, entre tantos outros prêmios internacionais, o que faz dele um dos principais longas originários dos Países Baixos. A trama conta a história de Antonia, personagem que volta à vila onde nasceu para estabelecer uma comunidade com sua filha. É uma saga familiar que atravessa décadas, na qual se cruzam personagens curiosos, tais como o filósofo pessimista (que cita Schopenhauer e Nietzsche), a menina com problemas psicológicos que sofre abuso sexual, o padre com tendências heréticas, entre outros tipos “excêntricos” que fazem parte não apenas da trajetória de Antonia, mas da própria criação do lugarejo, de sua formação enquanto comunidade. Marleen Gorris evita o 4-4-2, ou seja, não faz o arroz com feijão. Os atores mostram entrosamento num esquema tático que privilegia o desempenho de cada um, contudo sempre em função do todo. Sendo assim, o carisma individual dos personagens está ali a favor do contexto, para que o jogo flua bonito, como de fato flui. – por Marcelo Müller
Machuca (idem, 2004)
A única vez que a seleção chilena conseguiu ultrapassar as oitavas de final foi em 1962, quando o time conquistou o terceiro lugar da Copa do Mundo. Neste ano, o Chile está entre os favoritos da disputa. E um dos que afirma esta posição é ninguém menos que Pelé. No cinema, o país sempre mostrou obras contundentes, especialmente às que se relacionam com Augusto Pinochet, a ditadura militar e o golpe de estado contra marxista Salvador Allende. Pois é neste contexto que Andrés Woods realizou o sensível Machuca, que coloca a disputa de classes (média e baixa) do país sob a visão de dois meninos, Gonzalo e Pedro Machuca. O primeiro pertence à burguesia, o segundo passa necessidades. Mas ao estudarem no mesmo colégio, ambos ficam amigos e acompanham, mesmo sem entender muito, as jogadas políticas, o protesto do povo nas ruas e a opressão dos militares. O melhor do filme, acima de tudo, é não se posicionar contra ou a favor de qualquer uma das classes, mas sim mostrar como elas são, incluindo seus extremos, deixando a tarefa para o público decidir. Uma obra importante que dá outro olhar sobre as ditaduras que eclodiram na América Latina entre os anos 1960 e 1970. – por Matheus Bonez
Priscilla, A Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert, 1994)
Dizem que quem joga de salto alto costuma tropeçar na própria arrogância. Pois não foi o que aconteceu com a Austrália ao apostar numa comédia dramática estrelada por três drag queens – numa época em que o próprio termo ainda era novidade! Um ônibus reluzente, três astros de diferentes épocas e uma trama inusitada em pleno deserto australiano foram os ingredientes necessários para fazer desse filme um sucesso internacional. Muito mais do que a bilheteria, foi o impacto de seus personagens, da trilha sonora contagiante – com hits de Village People, ABBA e Gloria Gaynor – e de figurinos deslumbrantes – merecidamente premiados com o Oscar – que fazem do longa dirigido por Stephen Elliot um verdadeiro hino à diversidade e ao respeito às diferenças. Terence Stamp resgatou seu status de ícone dos anos 1970, Hugo Weaving se tornou o vilão preferido de Hollywood e Guy Pearce é o bom moço que nunca aposta no óbvio. Apesar de ter ganho uma refilmagem americana não-assumida pouco tempo depois – Para Wong Foo, Obrigada por Tudo! Julie Newmar (1995) – segue sendo uma referência – seja em cinema australiano, seja em temática lgbt – que perdura até os dias de hoje, vinte anos após o seu lançamento. – por Robledo Milani