E chegamos ao chamado “Grupo da Morte”, composto pela Inglaterra, campeã em 1966, a tetracampeã Itália (1934, 1938, 1982 e 2006), o Uruguai, bicampeão (1930 e 1950) e, correndo por fora, o escrete da Costa Rica, azarão que – alguém duvida? – pode complicar. Levando em consideração que apenas dois times se classificam para a próxima fase, finda a primeira no Grupo D já teremos ao menos um país de grande tradição no futebol voltando mais cedo para casa. O pragmatismo do futebol inglês, a organização tática e o empenho da representação italiana, a garra celeste e a disposição do pessoal costarriquenho: quem levará a melhor? No cinema, a representatividade de cada país é similar à das quatro linhas. Seria fácil escalar timaços compostos de diretores e atores ingleses e italianos, por exemplo. Por sua vez, o time uruguaio, embora menos numeroso de grandes nomes, não faria feio. Já a Costa Rica teria muitas dificuldades para fazer frente aos demais. Confira, então, as escolhas dos editores do Papo de Cinema para representar cinematograficamente as seleções deste Grupo D.
URUGUAI
O Banheiro do Papa (El Baño del Papa, 2007)
A seleção uruguaia dispensa apresentações. Bicampeão da Copa do Mundo (1930 e 1950), o time é presença constante no mundial e está sempre entre os mais cotados para chegar às finais. No cinema, o Uruguai também tem força, especialmente pela criatividade. Que o diga O Banheiro do Papa, coprodução com a França e o Brasil que tem como pano de fundo a visita de João Paulo II ao país em 1988. Enquanto a maioria dos comerciantes da cidade de Melo espera lucrar com a gastronomia local, o esperto muambeiro Beto (César Troncoso) tem, supostamente, a melhor ideia de todas: construir um banheiro público para ser alugado durante a visita do religioso. O filme dirigido por César Charlone e Enrique Fernández é impecável sob todos os aspectos e retrata uma realidade pouco vista nos cinemas: a (des)preparação de pequenas e pobres cidades para grandes eventos, seja a visita do Papa ou, porque não, a própria Copa do Mundo, em contraponto ao (sub)desenvolvimento social e político da região. A genialidade deste simples longa rendeu exibições no Festival de Cannes da época e foi premiado no 35º Festival de Cinema de Gramado em seis categorias: Melhor Ator (Troncoso), Atriz (Virginia Méndez), Roteiro, Prêmio Excelência de Linguagem Técnica, Prêmio da Crítica e Júri Popular. – por Matheus Bonez
COSTA RICA
Caribe (idem, 2004)
A Costa Rica não é reconhecida pelo cinema realizado no país. Ainda que tenha, aqui e acolá, alguns trabalhos que se destacam domesticamente, é difícil observar algum longa-metragem chegando em terras brasileiras. Mas, em época de Copa de Cinema, nada mais natural do que tentar dar um drible nestas dificuldades e buscar um filme de qualidade. Em 2005, pela primeira vez na história, a Costa Rica inscreveu uma produção do país para disputar uma vaga na categoria Melhor Filme Estrangeiro: Caribe, dirigido por Esteban Ramírez. É verdade que a ação se mostrou infrutífera, já que a obra não chegou a ser indicada. Mas não deixa de ser um bom termômetro para saber o que os costa-riquenhos consideram um bom trabalho. A linguagem é basicamente televisiva e a mistura de temáticas (história de amor entrelaçada a uma trama política e econômica) nem sempre funciona. Como exercício, porém, é um trabalho a ser saudado. Venceu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cinema Latino Americano em Trieste, na Itália, e também foi laureado pelo público no Festival de Huelva, na Espanha. – por Rodrigo de Oliveira
INGLATERRA
Trainspotting: Sem Limites (Trainspotting, 1996)
O representante da Inglaterra é daqueles filmes que geram polêmica. Trainspotting: Sem Limites retrata um grupo de viciados que perambula meio sem eira nem beira por uma Escócia repleta de ruas cinzentas e sem perspectivas. Diferente dos pais, da geração dos trabalhadores inveterados, essa galera procura curtir mais a vida, à sua maneira, aproveitando a noite e as possibilidades oferecidas pelo álcool e outras drogas. Embalados por David Bowie, esses fãs de futebol arranjam confusão atrás de confusão nos pubs em que passam. Se formassem um time de verdade, Renton, Begbie, Spud, Sick Boy, Tommy e os demais, seriam parte de um grupo difícil de controlar, ainda mais em épocas de concentração. Seriam garotos-problema, arredios ao esquema engessado de preparação física e tudo mais, uma espécie de geração intermediária entre o boleiro romântico de outrora e o profissional robotizado de hoje. Danny Boyle radiografa uma geração desorientada, situada bem na época das transformações, na qual o passado (via pais, professores e chefes) ainda influía incomodamente enquanto o futuro (eles próprios) era só indefinição. – por Marcelo Müller
ITÁLIA
A Doce Vida (La Dolce Vita, 1960)
Os italianos são conhecidos pela saborosa gastronomia, por levarem seus dias sem maiores preocupações e por serem grandes amantes. São pessoas expansivas, amigáveis e de sangue quente. E se essa combinação já rendeu quatro taças na Copa do Mundo – é a vice-campeã, atrás apenas do Brasil – no cinema seu resultado é ainda mais surpreendente: é o país que mais vezes ganhou o prêmio da Academia como Melhor Filme Estrangeiro, com 11 vitórias! E o recordista em estatuetas é ninguém menos que Federico Fellini, reconhecido em quatro ocasiões. No entanto, é curioso perceber que talvez sua obra prima, aquela mais memorável e popular, não foi sequer indicada nesta categoria internacional. A Doce Vida é o mais puro e simbólico retrato cinematográfico do povo italiano, reconhecido com quatro indicações ao maior prêmio do cinema mundial – inclusive a Melhor Direção – e premiado, no entanto, apenas como Figurino em Preto & Branco. Mas ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, além de ter servido de inspiração assumida para outro premiado no Oscar – o recente A Grande Beleza (2013), de Paolo Sorrentino, nada mais é do que uma grande homenagem a esse clássico inesquecível, imbatível em qualquer tipo de disputa. – por Robledo Milani
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