É chegada a vez do Grupo E, cujo grande destaque é a seleção da França, campeã mundial, na ocasião derrotando o Brasil na final (e quem esquece o chocolate que tomamos de Zidane e companhia?). As demais seleções são coadjuvantes do mundo da bola, sobretudo quando o assunto é Copa do Mundo. A Suíça, cabeça-de-chave, disputa sua décima competição, tendo chegado no máximo às quartas-de-final. O Equador está em sua terceira participação, e o décimo segundo lugar em 2006 foi o mais longe que o escrete sul-americano alcançou. E a seleção de Honduras é outra que está em sua terceira Copa do Mundo, sendo, portanto, quase uma caloura. E no campo cinematográfico? Para representar cada uma das seleções deste Grupo E, os editores do Papo de Cinema escolheram filmes que pudessem fazer bonito numa hipotética competição. Qual você achar que ganharia? Confira.
SUÍÇA
A Viagem da Esperança (Reise der Hoffnung, 1990)
País com pouca tradição de sucesso na Copa do Mundo, a Suíça é mais conhecida por sua política de imigração. Neste ano, após votação, foi decidido que haveria cotas anuais de vistos para vizinhos de países europeus. O que chega a ser irônico, já que mais da metade dos jogadores convocados (17 de 30) tem origens estrangeiras. O vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1991, A Viagem da Esperança, retrata a Suíça justamente por este viés menos glamuroso, sob o ponto de vista dos imigrantes turcos que tentam a sorte no país. Neste contexto, o longa de Xavier Koller conta a história de Haydar, pai de sete filhos, que parte de Istambul com a esposa Meryem e uma das crianças menores, tem o pouco dinheiro que possui roubado por trapaceiros e, ainda, precisa encarar uma travessia nos alpes durante uma nevasca para chegar ao destino. Apesar do prêmio da Academia, a produção não é muito conhecida, mesmo sendo um retrato interessante e comovente sobre esta realidade do país. E, por se tratar justamente da história de muitos jogadores da Suíça, é mais do que pertinente rever o filme em época de Copa do Mundo. – por Matheus Bonez
EQUADOR
Crónicas (idem, 2004)
O Equador é mais um participante da Copa do Mundo que não tem tradição cinematográfica alguma. São poucos os filmes produzidos por lá que tem alguma representatividade. Um destes exemplos é Crónicas, longa-metragem lançado em 2004 e que passeou por diversos festivais – dentre eles a mostra Un Certain Regard de Cannes, Sundance, Toronto, San Sebastian e Miami (nestes dois últimos, com direito a prêmios). Com direção de Sebastián Cordero, conta com o colombiano John Leguizamo como protagonista, curiosamente em seu primeiro papel em língua espanhola. Na trama, o ator vive Manolo Bonilla, um repórter sensacionalista que parte de Miami para o Equador para cobrir a história de um serial killer conhecido como Monstro de Babahoyo. Sedento pela história que busca, Bonilla acaba interferindo mais do que deveria nas investigações, fazendo acordos escusos com pessoas perigosas. Escolhido pelo Equador como seu representante para uma vaga na categoria Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, não chegou a ser lembrado pela Academia, mas é um trabalho a ser notado vindo daquele país. – por Rodrigo de Oliveira
FRANÇA
Acossado (À bout de souffle, 1959)
Godard, o então garoto prodígio do escrete francês, lançou em 1959 aquela que viria a ser a primeira obra-prima da nouvelle vague. Acossado é, antes de tudo, vanguardista em sua forma. Mostra-se artificial, estritamente cinema, e não enquanto simulacro da realidade que procura iludir o espectador como maneira de conseguir sua adesão. O raccord não raro se dá num solavanco, a fluidez da ação é sacudida por planos que propositalmente não sequenciam com exatidão, temporal, mas, sobretudo rítmica, o anterior. As andanças do boêmio diurno interpretado por Jean-Paul Belmondo, em fuga após matar um policial que tentou prendê-lo por excesso de velocidade, são pontuadas pelo ócio, uma espécie de ócio existencial. Suas deambulações por Paris o levam ao encontro de uma antiga paixão, a estudante americana que vende pelas ruas o periódico New York Herald Tribune. Acossado é o “camisa dez” do cinema francês. Une preparo físico e técnica para suportar incólume a passagem do tempo, sendo, ainda hoje, um filme atual. – por Marcelo Müller
HONDURAS
Amor y Frijoles (idem, 2009)
Um dos raros países da América Central a marcar presença nessa Copa do Mundo – o outro é a Costa Rica – Honduras tem tanta tradição no Cinema quanto no Futebol. Após estrear com derrota em 2014 (perdeu de 3 x 0 para a França), a seleção que ocupa o nada honroso 40° lugar no ranking da FIFA está em sua terceira participação no campeonato mundial, e tanto em 1982 quanto em 2010 foi eliminada logo na primeira fase. Talvez o resultado em campo neste ano seja diferente, mas na tela as esperanças são poucas. A filmografia hondurenha tem como principal destaque longas feitos a toque de caixa destinados ao mercado de vídeo, e com uma temática pouco diversificada: geralmente são contos de terror com elementos sobrenaturais. Um dos poucos títulos a escapar desta sina foi esta comédia assumidamente regional. Feita com recursos escassos (menos de US$ 100 mil), mas aproveitados de forma sábia, a produção faz uso com inteligência dos belos cenários naturais da região e apresenta uma história leve, sobre desencontros e traições amorosas, defendida com empenho por um elenco inexperiente, porém coeso. Fácil de se assistir, é uma boa ‘sessão da tarde’, típico filme feito para entreter o público, essencial para qualquer cinematografia que se proponha ser múltipla e universal. – por Robledo Milani
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