E chegamos à primeira rodada das Oitavas de Final na Copa de Cinema! Como seguimos os resultados oficiais da Copa do Mundo, também surpreendeu a nós, os quatro editores do Papo de Cinema, a eliminação já na primeira fase da Espanha, atual campeã do mundo. Com isso, fica a dúvida de quem se dará melhor agora entre os remanescente dos grupos A e B: o Brasil, país sede do evento e clássico favorito, ou a Holanda, que desde a última Copa tem se mostrado uma das melhores equipes de todo o planeta? Neste ano, inclusive, é a que se classificou com mais pontos. Porém, não dá para deixar de lado o Chile, que cresceu na competição em 2014, e o próprio México, que deu trabalho para os brasileiros no único empate da seleção tupiniquim nesta Copa. Em campo restam estas dúvidas, mas e no cinema, como fica? Confira nossas escolhas para defender cada seleção… e torça pela sua!
BRASIL x CHILE
Dona Flor e seus Dois Maridos (Dona Flor e seus Dois Maridos, 1976)
O que o Brasil mais precisa nas oitavas de final da Copa do Mundo é do apoio de sua torcida para passar à próxima fase do torneio. Pensando nisso, escolher um filme que por anos foi recordista de público no país faz todo o sentido para nos representar na Copa de Cinema. Dona Flor e seus Dois Maridos, de Bruno Barreto, baseado na obra de Jorge Amado, mostra as desventuras da Flor do título, interpretada por Sônia Braga, que se vê às voltas com o espírito do seu falecido e mulherengo marido, Vadinho (José Wilker), enquanto tenta uma nova vida com o sossegado farmacêutico Teodoro Madureira (Mauro Mendonça). Sucesso absoluto de público e muito elogiado pela crítica, o longa-metragem foi indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro, em 1979, e catapultou a carreira de Braga, que emendou outros bons trabalhos no Brasil até conquistar uma interessante projeção internacional. Na batalha contra o Chile, o país tem tudo para sair vitorioso dentro do campo e nas salas de cinema. – por Rodrigo de Oliveira
No (No, 2012)
Os filmes sobre a ditadura militar, o período das sombras da história do Chile e de boa parte da América Latina, sempre rendeu ótimos longas sobre o tema. Na primeira fase, o escolhido para defender a seleção na Copa de Filmes foi o sensível Machuca (2004), que tinha como pano de fundo o início desta fase no país. O filme da vez mostra o outro lado, o fim da Era Pinochet, como a grande vitória do país – algo que também aconteceu no gramado até agora, por isso nada mais justo do que comemorar com o denso No, filme que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Ao apresentar a produção com ares de documentário e uma fotografia que remete à época, o diretor Pablo Larraín apresenta o plebiscito popular que tirou Augusto Pinochet do poder com a simples palavra “não” nas urnas. É claro que até o momento de decisão as coisas não são fáceis, por isso essa obra se torna ainda mais interessante ao colocar como protagonista o publicitário René Saveedra (Gael García Bernal), que nem acreditava no poder da população para tirar o militar do comando do país e tinha medo que sua participação na campanha gerasse represálias do governo. Com um roteiro que aponta para todos os lados da questão, No não apenas mostra ser impecável, mas também um dos mais importantes títulos da cinematografia chilena atual. – por Matheus Bonez
HOLANDA x MÉXICO
Caráter (Karakter, 1997)
Um dos destaques da primeira fase da Copa do Mundo, a Holanda surge como uma das grandes favoritas ao título. Para não deixar por menos aqui na Copa de Cinema, o filme representante da “laranja mecânica” agora para as oitavas-de-final é Caráter, de Mike van Diem, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Na trama, que se passa nos anos 20 do século passado, um advogado é preso, acusado de matar um poderoso oficial de justiça. Em meio ao depoimento, descobrimos a ligação familiar entre ele e a vítima, voltando no tempo para acompanhar sua infância de orfandade paterna e as dificuldades que teve para vencer na vida, a despeito da frieza do próprio pai ausente. Assim como o futebol holandês, guiado pela disciplina tática, mas com espaço de sobra ao talento e à improvisação, Caráter tem por baixo da aparência endurecida (sobretudo por conta do registro visual e da aridez emocional de certas figuras) um núcleo formado basicamente pela necessidade sentimental de seus personagens. – por Marcelo Müller
Amores Brutos (Amores Perros, 2000)
O avanço da seleção mexicana na Copa do Mundo, com o segundo lugar garantido no grupo do Brasil, atrás de nosso escrete apenas pelo saldo de gols, nos faz voltar à filmografia do país para escolher mais um representante cinematográfico local para a Copa de Cinema. E se na primeira fase O Anjo Exterminador (1962) fez bonito, para as oitavas-de-final quem vai a campo é Amores Brutos, filme de Alejandro González Iñarritu. As várias histórias do roteiro de Guillermo Arriaga são entrelaçadas a partir de um acidente automobilístico ocorrido na Cidade do México. Mundos completamente diferentes se cruzam por obra desse evento aleatório (no que viria a ser a tônica da parceria Iñarritu e Arriaga, enquanto ela durou). A violência, em suas mais diversas facetas, surge como grande catalisadora dos dramas que vão se imbricando até formar um painel complexo, não apenas da sociedade local, mas daquilo que aproxima as pessoas, independente da esfera social. Um grande filme que certamente representa bem o México enquanto país de cinema. – por Marcelo Müller
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