Chegar às quartas-de-final da Copa do Mundo representa desafios cada vez maiores para as seleções participantes. Ou seja, jogos cada vez mais disputados. Se já assistimos à partidas de tirar o fôlego na fase anterior, tudo indica que teremos clássicos ainda mais acirrados. A Alemanha, por exemplo, favoritíssima para passar de fase, teve muito trabalho com a seleção da Argélia. E ainda que a França tenha vencido a Nigéria por 2×0, a partida não foi tão fácil quanto o placar poderia sugerir. As duas seleções europeias agora jogarão o tudo ou nada nas quartas-de-final da Copa do Mundo para decidir quem continua. E na Copa de Cinema? Os dois países têm tradição na sétima arte e fariam uma partida igualmente bela (e acirrada) nas telonas. Confira as produções que os editores do Papo de Cinema escolheram para defender as cores da Alemanha e da França e escolha seu favorito.
Hiroshima Meu Amor (Hiroshima mon amour, França/Japão, 1959)
Já que a seleção francesa de futebol segue firme na Copa do Mundo, aliás, agora como uma de suas favoritas, vamos ao filme que representa o país nas quartas-de-final da nossa Copa de Cinema: Hiroshima Meu Amor, de Alain Resnais. O início, sequência que justapõe imagens da cidade japonesa cuja população foi vitimada pela queda da bomba atômica com a conversa íntima entre um arquiteto local e uma atriz francesa (ela de passagem pela terra do sol nascente para a gravação de um filme sobre a paz) é um dos mais impressionantes do cinema. A partir daí, temos uma construção narrativa que, além de brilhante como deflagradora do romance, se mostra poderosa enquanto libelo contrário aos conflitos bélicos que afetam as pessoas em escala global. No cinema comumente memorialista de Resnais, somos intimados a não esquecer, a valorizar lembranças e a entender como elas auxiliam na modelagem dos seres e da história. Hiroshima Meu Amor é um filme complexo, em que todos os planos, olhares e gestos são orquestrados rigorosamente em prol de uma poética cuja vanguarda ajudou o cinema a evoluir como expressão artística. É, em matéria de filmes, difícil a França não entrar sempre como favorita. – por Marcelo Müller
A Fita Branca (Das Weisse Band, Alemanha/Austria/França/Itália, 2009)
Ao contrário de muitos países europeus de cinematografias tradicionais, como a Itália, França e Espanha, a Alemanha tem um retrospecto limitado no que diz respeito ao Oscar de Filme Estrangeiro. Com apenas três vitórias – sendo duas delas indiscutíveis – um dos outros tantos que chegaram a ser indicados, porém voltaram de mãos abanando, é esse impressionante drama filmado num belíssimo e cruel preto e branco por Michael Haneke. Finalista ainda ao prêmio da Academia na categoria de Melhor Fotografia e vencedor de diversos prêmios ao redor do mundo, como o Globo de Ouro, o National Board of Review, o European Film Awards e a Palma de Ouro no Festival de Cannes, além de ter recebido nada menos do que dez estatuetas no German Film Awards – entre elas, as de Melhor Filme e Direção – esta história sobre estranhos eventos que ocorrem em uma pequena vila alemã poucos anos antes da Primeira Guerra Mundial não só possibilita uma leitura reflexiva sobre o drama vivido pelo país durante o século seguinte como também realiza um impressionante estudo psicológico sobre uma nação frente ao inevitável. Mais ou menos como o preparo necessário a um jogo acirrado como esse, em que somente sobreviverá o melhor. – por Robledo Milani