Depois de vários anos, a edição 40 do Festival de Cinema de Gramado voltou a exibir a mostra competitiva de curtas nacionais à noite. Nada mais correto. A categoria não traz famosos ao tapete vermelho, mas tem valor cinematográfico indispensável, pois constrói um mosaico atual da linguagem e dos temas do cinema nacional, ao mesmo tempo em que abre caminho para novos realizadores. Os 14 títulos em competição não apenas justificaram a mudança de horário, como se mostraram a melhor seleção de curtas em muitas edições.
A abertura se deu com a sofisticada animação crítica Linear, de Amir Admoni. A estética urbana, filmada em preto-e-branco, molda o drama jovem A triste história de Kid Punhetinha, de Andradina Azevedo e Dida Andrade. Dicionário, de Ricardo Weschenfelder, é a adaptação competente de um conto do escritor catarinense Lindolf Bell. O registro sensível sobre um tema trágico faz da não premiação de Diário do não ver uma lástima, assim como o do metalinguístico Meta, de Rafael Baliu, certamente prejudicado pelos sérios problemas de som. A coesão técnica de Casa Afogada, de Gilson Vargas, representou-se nos prêmios conquistados, cujo destaque fica por conta do trabalho de som irrepreensível de Gabriela Bervian. Di Melo, O Imorrível, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro, é o documentário preciso sobre o cantor pernambucano Di Melo. O corajoso Menino do Cinco, de Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira, impressionou a todos com a sua crítica silenciosa, levando para a Bahia boa parte dos prêmios da noite, inclusive o de Melhor Filme.
Gabriela Amaral Almeida fez de A Mão que Afaga um curta tecnicamente sofisticado e emocionalmente denso, merecedor de mais do que a premiação lhe concedeu (Prêmio Especial do Júri). Funeral à Cigana, de Fernando Honesko, não comunica como deveria, tendo vida especialmente pelo prêmio recebido (Melhor trilha sonora). Pela beleza ao resgatar o cineasta italiano Pio Zamuner, Piove, Il Film di Pio, de Thiago Mendonça, faz da generosidade uma homenagem e, desta, um documentário-ficcional injustiçado na premiação. #, de André Farkas e Arthur Guttilla, é a interessante interpretação do cotidiano pela luz enquanto matéria sinestésica. Eco de um tema metafísico clássico, O Duplo, de Juliana Rojas, tem boa técnica cinematográfica e a excelente Sabrina Greve, conjunção que merecia ir além dos prêmios recebidos. Em abordagem peculiar, o tempo encontra e desencontra os personagens de Um Diálogo de Ballet, de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon.
Confira abaixo a lista completa do vencedores da mostra competitiva de Curtas Nacionais no 40° Festival de Gramado:
Melhor Filme: Menino do Cinco (PE), de Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira
Melhor Diretor: Gilson Vargas, por Casa Afogada (RS)
Melhor Filme Júri Popular: Menino do Cinco (PE), de Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira
Prêmio Especial do Júri: A Mão que Afaga (SP), de Gabriela Amaral Almeida
Melhor Atriz: Sabrina Greve, por O Duplo (SP)
Melhor Ator: Thomas Vinícius de Oliveira e Emanuel de Sena, ambos por Menino do Cinco (PE)
Melhor Roteiro: Marcelo Matos de Oliveira, por Menino do Cinco (PE)
Melhor Fotografia: Bruno Polidoro, por Casa Afogada (RS)
Melhor Montagem: Gustavo Forti Leitão, de Di Melo, O Imorrível (SP/PE)
Melhor Direção de Arte: Iara Noemi e Gilka Vargas, por Casa Afogada (RS)
Melhor Trilha Musical: Marcos Azambuja, por Funeral à Cigana (SP)
Melhor Desenho de Som: Gabriela Bervian, de Casa Afogada (RS)
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