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Mulher-Maravilha. Batman. Flash. Aquaman. Ciborgue. A reunião de cinco pesos pesados da DC Comics causou estranheza quando o filme da Liga da Justiça (2017) foi anunciado para o final deste ano, ainda mais após a fraca recepção da crítica a Batman vs. Superman (2016 ) e Esquadrão Suicida (2016). “Não é cedo demais para o encontro destes heróis?”, muitos se perguntavam. Nas sempre frequentes comparações entre os universos Marvel e DC nos cinemas, o que sempre se questionou foi a rapidez com que a Warner quis um longa estrelado pela equipe mais famosa da editora do Superman. Após o estrondoso sucesso do filme da amazona na metade de 2017, os ânimos começaram a gerar melhores expectativas sobre o tom que teria o capítulo seguinte. Dirigido por Zack Snyder e com retoques de Joss Whedon (o responsável pelo sucesso de Os Vingadores, 2012, diga-se), percebe-se que a identidade da DC permanece, ainda que a leveza esteja mais presente do que nunca. E isso é bom ou ruim? Aí vai depender do gosto do freguês.

O roteiro de Whedon e Chris Terrio (com algumas pitadas de Snyder) vai direto ao ponto mostrando onde estão seus principais guerreiros: o longa já abre com Batman/Bruce Wayne (Ben Affleck) atrás de um ser alienígena voador que o herói pressente ser apenas um entre vários que estão na Terra para algo muito maior. Mulher-Maravilha/Diana Prince (Gal Gadot) se mostra mais uma vez ao mundo ao deter uma ação terrorista em Londres. Superman/Clark Kent (Henry Cavill) permanece morto, e sua perda continua sentida não apenas por sua mãe, Martha (Diane Lane) e a namorada, Lois Lane (Amy Adams), como também pelo mundo, que parece ainda mais sombrio após sua morte. É o momento perfeito para o Lobo da Estepe (voz de Ciarán Hinds) entrar em cena e roubar as três Caixas Maternas que estão em poder das amazonas, dos atlantes e dos humanos e, assim, completar seu plano de aniquilar a Terra e sair de um exílio imposto por Darkseid. Com a ameaça à espreita, Bruce e Diana vão atrás de recrutas para uma equipe que deve deter o vilão.

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Os candidatos são aqueles que já vimos de relance em Batman vs. Superman: os jovens Barry Allen (Ezra Miller), como o velocista Flash, e Victor Stone (Ray Fisher), o Ciborgue, além de Arthur Curry (Jason Momoa), o híbrido humano/atlante Aquaman. Enquanto o primeiro aceita o pedido sem pestanejar, o segundo se mostra mais reticente pela falta de controle de seus poderes, ao contrário do aquático, que prefere viver em isolamento. É claro que em determinado momento todos estarão juntos, mas ainda que a história seja ágil para não enrolar o telespectador, ela apresenta bons motivos para as razões de uns e outros serem tão distintas quando o assunto é salvar o mundo como uma equipe. Inclusive há espaço para os dois líderes, Bruce e Diana, entrarem em conflito por dilemas éticos, com direito a alfinetadas e acusações nem um pouco educadas.

Ainda que os créditos sejam dedicados a Zack Snyder, responsável pelas duas aventuras anteriores estreladas pelo Homem de Aço, inclusive com a fotografia acinzentada e algumas pirotecnias, o tom leve é a marca de Whedon. Oficialmente, se diz que Snyder teve que se afastar após problemas pessoais (realmente, houve uma grande tragédia na sua família), mas é perceptível que, após o sucesso de Mulher-Maravilha (2017), a Warner viu que o público se interessa mesmo pela diversão mais escapista, ainda que emblemática. Não à toa é tudo retratado de uma forma mais simples, como Whedon gosta de ser. Uma marca do diretor/roteirista desde a época da série Buffy: A Caça Vampiros (1997-2003), indo para suas passagens no mundo das HQs como a excelente Os Surpreendentes X-Men, até chegar, é claro, nas suas incursões com os heróis da Marvel no filme de 2012 e a sequência, A Era de Ultron (2015).

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O mais importante a dizer é que nenhum personagem é desperdiçado, especialmente entre os heróis. Se Diana é a alma do grupo, com sua bondade aliada ao espírito de liderança de amazona, Bruce é o cérebro que arquiteta tudo da forma mais minuciosa possível. E tanto Gal se firma cada vez mais como o norte do Universo DC nos cinemas, como Affleck está seguro na pele do atormentado, ainda que mais relaxado, homem-morcego. Barry vai além de um simples alívio cômico na pele de Ezra Miller. Sua jovialidade traz a inexperiência do ingênuo herói que também sofre pela prisão do pai, acusado de matar a mãe quando o velocista ainda era uma criança. Momoa representa a ferocidade cínica de um rei das profundezas que, o que menos quer, é pertencer à realeza. E Ray Fisher, que nos trailers ainda não mostrava a que vinha, carrega consigo o conflito emocional de um rapaz que perdeu metade do corpo e agora não sabe se é mais humano ou máquina.

O ponto negativo dentro disso tudo? O Lobo da Estepe. Não que seja um vilão ruim. Depois da bruxa rebolativa de Esquadrão Suicida (2016) ou de outros exemplares da editora rival, há piores. Na verdade, o que atrapalha mais não é o fato do ser de Apokolips ser raso. Ele é mau por natureza e ponto, sem grandes complexidades. O que incomoda de leve é o CGI. A impressão é que se poderia ter feito uma bela maquiagem em Ciarán Hinds que o ator daria conta do recado, além da clássica voz grossa de vilão de outro planeta. Sua resolução também é rápida, mas certeira. Por falar em efeitos digitais, acredito que o pior seja no famoso bigode de Henry Cavill, que estava em meio a gravações de outro filme quando precisou regravar cenas para a Liga da Justiça. Resultado: parece que o Superman usa botox em duas cenas. Mas nada que atrapalhe a experiência.

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Aliás, a pergunta que não quer calar: Kal-El, o kryptoniano favorito de todo mundo, está de volta ou não? A resolução para este tema também não é complicada, surgindo como mais um belo ganho do roteiro. Agora, se ele realmente retorna, o melhor é conferir o filme sem spoilers. Há vários easter eggs escondidos para os fãs mais ardorosos das HQs, inclusive numa das duas cenas pós-créditos (que, sim, valem a pena). Porém, além de poder conferir estes heróis reunidos e realmente lutando em equipe, as cenas de ação são generosas, inclusive com as amazonas no início do longa, além de aparições históricas de outros personagens da DC. Inclusive dois em especial que sugerem a entrada de mais heróis futuramente. Falar mais seria estragar a experiência. O que importa é que Snyder e Whedon, não importa de quem seja a autoria predominante, conseguiram estabelecer a equipe num filme que funciona do início ao fim sem exigir tanto do espectador. Quando o longa acaba, a gente quer mais de todos. Individualmente ou em grupo. Resta torcer para que a bilheteria seja um grande estouro e novas continuações possam surgir. A DC agora parece que encontrou seu caminho de vez. Ainda bem.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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