Se para o longa peruano A Teta Assustada o caminho entre os festivais de Berlim (onde ganhou o Urso de Ouro de Melhor Filme neste ano) e de Gramado (foi exibido na noite de terça-feira) foi curto, para o cineasta Walter Lima Jr. (acima) essa jornada foi bem mais extensa. Um dos primeiros trabalhos de Waltinho, como é conhecido, foi Brasil Ano 2000, de 1968, que naquele ano ganhou o Urso de Prata no evento alemão. Somente agora, mais de 40 anos depois, recebe um reconhecimento similar na Serra Gaúcha, mesmo já tendo participado da mostra competitiva em anos anteriores. Desta vez ele veio receber o Troféu Eduardo Abelim, prêmio já concedido para cineastas como Roberto Farias, Carlos Reichenbach, Carlos Diegues, Hector Babenco e Júlio Bressane. Aproveitando a ocasião, no mesmo horário, porém em outra sala (Centro Municipal de Cultura), foi exibido o último trabalho dele, o irregular Os Desafinados (2008), que apesar do ótimo elenco (Rodrigo Santoro, Selton Mello, Claudia Abreu) não chega a entusiasmar. Mas, mesmo assim, vale pela constatação de que um realizador tão importante historicamente para o nosso cinema continua na ativa.
A segunda sessão de curtas-metragens nacionais selecionados para a Mostra Competitiva ocupou o espaço das 17h da quarta-feira no Palácio dos Festivais. O primeiro filme foi o gaúcho A Invasão de Alegrete, dos irmãos Diego (diretor) e Pablo Müller (produtor). Trata-se de uma divertida brincadeira a respeito da rixa histórica entre duas cidades do interior do Rio Grande do Sul, Uruguaiana e Alegrete. No elenco estão alguns dos principais atores do estado, como Miguel Ramos, Felipe de Paula, João França, Sirmar Antunes e Nelson Diniz. O paulista Teresa, de Paulo Szutan e Renata Terra, vai por outro lado, apostando na carga dramática da atriz Sabrina Greve para mostrar a realidade de uma mulher que sai do interior para realizar seus sonhos na capital. Os dois últimos curtas eram cariocas. A animação Josué e o Pé de Macaxeira, de Diego Viegas, e o romântico O Teu Sorriso, de Pedro Freire, apostam em outras vertentes. O primeiro brinca com a lenda da ‘macaxeira mágica’, famosa no sertão, enquanto que o segundo tem nos seus intérpretes – Paulo José e Juliana Carneiro da Cunha – os principais destaques.
Já é lugar-comum em Gramado falar que a mostra competitiva latina é muito superior do que a brasileira. Mas isso não quer dizer que não tenha alguns deslizes na seleção estrangeira. Um bom exemplo foi a produção colombiana Nochebuena, de Maria Camila Loboguerrero (acima). Essa comédia de erros repleta de humor negro tem como maior mérito a curta duração – são menos de 90 minutos de total constrangimento. Durante uma noite de Natal, uma família tradicional vê toda sua pompa ir por água abaixo numa série de confusões e problemas sanitários. Brincando com o título, o melhor mesmo teria sido batizá-la como “NocheBUEMBA”!
Filmes com temática indígena sempre ganham espaço destacado no Festival de Gramado. E esta é uma preferência histórica. Começou nos idos dos anos 70, em 1979, pra ser mais exato, quando o grande vencedor daquele ano foi o documentário Raoni, de Jean-Pierre Dutilleux e Luiz Carlos Saldanha. Quase vinte anos depois, outra produção com assunto semelhante, Serras da Desordem (2006), de Andrea Tonacci, também ganhou o prêmio máximo. E agora chegou a vez do documentário Corumbiara, de Vincent Carelli. O argumento não é dos mais emocionantes – uma investigação sobre um massacre em uma aldeia na Gleba Corumbiara, em Rondônia acontecido em 1985 – mas o público respondeu com entusiasmo, aplaudindo durante a projeção e deixando a sala com comentários bastante positivos. Mais kikitos para os índios?
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