Marcelo Médici foi um caso raro de quem fez muito sucesso no teatro e foi parar nas telinhas. Com seu brilhante monólogo Cada Um Com Seus Pobrema, o ator arrebatou plateias com seus tipos e com textos pra lá de engraçados, lotando casas Brasil afora. Não satisfeito, engavetou o projeto e se arriscou na fracassada nova versão de O Mistério de Irma Vap – mesmo que não tenha sido culpa dele o fato da nova montagem não ter decolado. Agora, Médici volta aos palcos com Eu era tudo para ela… e ela me deixou, ao lado de Ricardo Rathsam, seu companheiro de palcos há muitos anos. A expectativa, ao menos da minha parte, era grande. E o que acontece quando esperamos muito por algo é podemos sair frustrados.
Neste novo espetáculo, Médici está mais uma vez nadando em um mar tranquilo e que domina com brilhantismo. Ele faz nove tipos com vozes, expressões e figurinos diferentes, e mais uma vez mostra o seu talento absurdo para esse tipo de trabalho. O ator segue impecável e em plena forma, e no palco Ricardo Rathsam tem a ingrata tarefa de não sumir ao lado de um ator magnífico – e a faz bem, com um bom desempenho deixa também sua marca. Soma-se a isso cenários e figurinos muito caprichados e de bom gosto, além de uma direção certeira da veterana Mira Haar.
Bom, até aqui você deve estar imaginando que adorei o espetáculo, certo? Errado, o que peca aqui é o texto fraco de Emílio Boechat. A trama conta a história de Samuel (Rathsam), que depois de dez anos de casamento é surpreendido pelo pedido de divórcio da esposa Dóris (Médici). A partir daí ele é expulso de casa e vai encontrando diversos tipos pelo seu caminho, desde a mãe até uma prostituta gaúcha (todos vividos por Médici). Para costurar essa trama, o autor ainda colocou elementos policialescos e bobos que falam de um serial killer que anda matando pessoas pela cidade. O texto, por vezes, fica monótono e chega a dar sono. Os atores fazem o possível, e quando pensamos estar tudo perdido Médici interpreta a tal profissional do sexo, esse sim um personagem impagável e com bons diálogos.
Eu era tudo pra ela… e ela me deixou deveria ser apenas um espetáculo de esquetes. Talvez com mais escracho, e focado na competência e magnitude do intérprete que temos em cena, funcionasse melhor. Infelizmente, não é o caso.
Avaliação: Regular
Eu era tudo pra ela… e ela me deixou está em cartaz em São Paulo, no Teatro Faap, até 4 De Dezembro
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